Sai Donald Trump, que disse adeus à Casa Branca e não esteve na cerimónia, e entrou Joe Biden, que tomou posse esta quarta-feira, em frente ao Capitólio, em Washington DC, e se tornou o 46.º presidente dos Estados Unidos da América.
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Unidade, verdade, tolerância, compromisso. Biden entrou em cena numa posição diametralmente oposta à exibida por Donald Trump durante quatro anos. Fez um discurso apaziguador, a apelar à cura da América, sublinhando a vitória da democracia e a necessidade de criar condições para voltar a juntar um país dividido por radicais diferenças de opinião - "O caminho a seguir é o da unidade".
A América "foi testada", mas "a democracia prevaleceu" e venceu sobre os "ataques à verdade" (uma alusão à invasão ao Capitólio e às dúvidas não fundamentadas sobre os resultados eleitorais), disse o 46.º presidente dos EUA, 78 anos, que quer "acabar com esta guerra incivil" que tem devastado politica, social e economicamente o país. "Temos de liderar não pelo exemplo do nosso poder, mas pelo poder do nosso exemplo".
"A política não tem de ser um um incêndio que destrói tudo no seu caminho", salientou ainda. "Todos os desentendimentos não têm de ser motivo para guerra. E temos de rejeitar a cultura em que os factos são manipulados e fabricados".
Biden garantiu que não vai falhar no seu objetivo e apelou ao fim da acrimónia que divide opositores políticos. "Não nos podemos ver como adversários, mas sim como vizinhos", para que "o sonho de justiça para todos não será mais adiado", acrescentou ainda.
Tomada de posse sem público, mas cerimonial
A cerimónia foi atípica e severamente marcada pelas restrições de saúde e pelas fortes medidas de segurança. Não houve público no enorme parque 'National Mall', onde habitualmente muitos milhares de norte-americanos se deslocam habitualmente para assistir às cerimónias de tomada de posse dos seus presidentes. A zona estava encerrada e protegida por agentes da polícia e soldados da Guarda Nacional. Nu lugar dos apoiantes, estiveram bandeiras americanas a compor um cenário inédito.
Mas a celebração não perdeu o seu simbolismo, principalmente depois de uma presidência que corroeu a importância das instituições e dos momentos protocolares de que se faz a democracia. Como habitual, os casais Clinton, Bush e Obama estiveram em Washington para assistir à tomada do poder e observar o protocolo habitual, que exige a presença dos ex-presidentes (Carter, por motivos de saúde, não pode comparecer).
Depois de uma atuação de Lady Gaga, que subiu ao palanque para cantar o hino nacional, o democrata colocou a mão sobre uma edição da bíblia de 1893, que a sua mulher segurou, para jurar defender a Constituição, perante o presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, e perante o olhar de Kamala Harris, que minutos antes tinha tomado posse como sua vice-presidente (tornando-se na primeira mulher nesse cargo da história dos EUA).
Trump, que faltou à cerimónia e se tinha despedido de manhã da Casa Branca, foi figura, apesar disso, omnipresente embora não enunciada por nenhum dos intervenientes. O seu modo agressivo, que instalou a política de trincheira na Sala Oval, foi referido de forma velada por Biden por diversas vezes, ou de todas as vezes em que falou da necessidade de se acabar com a polarização política excessiva e baseada em realidades alternativas. Talvez a mais significativa tenha sido a frase, pontuada com firmeza: "As últimas semanas e meses mostraram-nos uma lição dolorosa. Há a verdade e há a mentira".
O tom e as palavras do presidente, serenos e de apelo a um regresso à normalidade democrática, preencheram um discurso um discurso de esperança, crente de que é possível sarar feridas e abraçar os adversários, mesmo num momento "histórico de crise": "Não me digam que as coisas não podem mudar".
Desfazer decisões de Trump
A ordem de trabalhos para os primeiros dias já está definida. Biden revelou já que pretende começar por desfazer o legado político de Trump, usando o mesmo expediente utilizado pelo seu sucessor para reverter as políticas de Obama. Vai assinar ações executivas para mudar leis sobre imigração, alterações climáticas ou gestão da pandemia.
Já esta quarta-feira, depois da tomada de posse oficial, Biden encerrará a construção do muro entre os Estados Unidos e o México, acabará com a proibição de entrada de cidadãos de alguns países de maioria muçulmana, regressará ao Acordo do Clima de Paris e à Organização Mundial da Saúde e revogará a aprovação do oleoduto Keystone XL, asseguraram na terça-feira os seus assessores.
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