Um mês depois do início da vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a covid-19, os Estados Unidos registaram poucos efeitos secundários, disse a pediatra Claire Boogaard, do hospital Children's National em Washington, D.C.
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"Não recebemos alertas sobre efeitos secundários", afirmou a médica, que lidera o programa de vacinação contra a covid-19, numa sessão da Included Health a que a Lusa teve acesso.
"A vacina foi administrada a milhões em todo o país", frisou, revelando que no seu hospital já se vacinaram três mil crianças e que dores no braço foram o efeito mais comum.
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De acordo com os dados do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), 4,8 milhões de crianças entre os 5 e os 11 (16,7% do total) receberam pelo menos a primeira dose da vacina da Pfizer, a única aprovada para esta faixa etária, desde novembro.
Em Los Angeles, o condado mais afetado dos Estados Unidos pela pandemia de covid-19, o distrito escolar montou clínicas de vacinação em escolas e tem feito um grande esforço de envolvimento dos pais para que as crianças recebam as duas doses.
Foi o que fez a filha de 9 anos de Aryn Kennedy, residente em Los Angeles, que já está totalmente vacinada. "Ela não teve quaisquer efeitos secundários na primeira dose e teve dores de cabeça cerca de 12 horas após a segunda dose", contou Kennedy à Lusa. "Um par de doses de ibuprofeno resolveram o assunto", disse.
As filhas de Deborah Cha, de 7 e 11 anos, também não reportaram efeitos secundários, salvo algum cansaço na mais velha, e o filho de 5 anos de Kimberly Hewarathna não se queixou de dor nem febre. "Foi um processo bastante fácil para nós", contou a norte-americana.
Também Mike Peebler, residente em Los Angeles, decidiu avançar para a vacinação da filha de 10 anos. "Conseguimos facilmente uma marcação", disse à Lusa, referindo-se a uma das maiores cadeias de farmácias do país. "Ela não teve sintomas nem na primeira nem na segunda dose, para lá de algumas dores no braço".
As vacinas contra a covid-19 são seguras, eficazes e a melhor forma de proteger os nossos estudantes, trabalhadores e famílias
Com uma adesão inicial robusta, a análise da Kaiser Family Foundation aos dados do CDC mostram que o ritmo de vacinação está a abrandar nesta faixa etária, algo que foi mais notório a partir do feriado de Ação de Graças, após o qual se abre oficiosamente a época natalícia.
"As vacinas contra a covid-19 são seguras, eficazes e a melhor forma de proteger os nossos estudantes, trabalhadores e famílias, e as escolas públicas são sítios naturais para os nossos estudantes e famílias para receberem esta vacina que salva-vidas", disse um porta-voz do distrito escolar unificado de Los Angeles, numa declaração enviada à Lusa.
É isto que Virag Vida, residente em Venice Beach, tem ouvido por parte dos responsáveis da pré-escola frequentada pela sua filha de cinco anos. "A escola tem tido muitas conversas connosco e fóruns abertos, com médicos que respondem a perguntas", disse à Lusa, descrevendo "alguma pressão" para que os pais vacinem os filhos.
"Tenho alguns receios", admitiu, citando o estado incipiente do processo. No entanto, disse que vai ceder porque também está preocupada com os efeitos de uma infeção e do isolamento. "Vou vaciná-la porque é mais seguro e não quero que volte a ter aulas remotas", explicou à Lusa. "É muito importante para a sua saúde mental estar com colegas da mesma idade".
Os estudos virão mais tarde. Por isso, decidimos que não as vamos vacinar e vamos mantê-las em casa
Já Andrea (nome fictício), também residente de Los Angeles, vai recusar-se a vacinar as filhas contra a covid-19. "As minhas filhas têm menos de seis anos e uma delas tem necessidades especiais, é autista. Estão a ter aulas em casa e não é fácil para a família, mas falei com o meu marido e pensamos que é melhor ter cuidado para não nos arrependermos", contou.
"Estou cética quanto à vacina para crianças pequenas. Mesmo que eles digam que não há nenhum risco", considerou. "Penso que não podemos ter a certeza e os estudos virão mais tarde. Por isso, decidimos que não as vamos vacinar e vamos mantê-las em casa".
No auge da variante delta, entre agosto e setembro, a Florida estava a internar três mil crianças com covid por semana
O médico Todd Thames, da Included Health, avisa que há a ideia errada de que a covid-19 não afeta as crianças e isso pode levar os pais a não vacinarem os filhos.
"Há esta noção de que a covid não é uma doença que afete as crianças, mas afeta e pode ter um impacto tremendo", sublinhou. "No auge da variante delta, entre agosto e setembro, a Florida estava a internar três mil crianças com covid por semana".
Também a pediatra Claire Boogaard avisou para as consequências da infeção em crianças. "Mesmo uma infeção moderada tem efeitos em crianças, especialmente entre os 5 e os 11 anos", afirmou.
Uma delas, disse, é a covid longa, com sintomas persistentes durante muito tempo e algo que a comunidade médica ainda não conseguiu entender. "Os sintomas são variados e a prevalência é de 6% a 35%, ou seja, uma grande proporção das crianças".
Outra é a síndrome inflamatória multissistémica pediátrica, que "é rara mas pode ser fatal e requer tratamento crítico".