Os EUA estão a caminho da Lua, mais de 50 anos depois da última alunagem. A missão, operada por uma empresa privada, leva instrumentos científicos da NASA e restos mortais de atores e ex-presidentes norte-americanos.
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O foguetão Vulcan Centaur descolou esta segunda-feira da Florida, EUA, levando a bordo o primeiro aparelho americano que tentará pousar na Lua, após mais de 50 anos. Desde a missão Apollo XVII, em 1972, que os americanos não punham o pé no satélite natural da terra.
O Vulcan Centaur do grupo industrial ULA, que reúne a Boeing e a Lockheed Martin, levantou do Cabo Canaveral, na Florida, às 2.18 horas locais desta segunda-feira (7.18 em Portugal continental). Exatamente 51 minutos e seis segundos após a descolagem, o módulo Peregrine separou-se do foguetão, confirmou a porta-voz da ULA, Amanda Sterling e após alguns minutos conseguiu estabelecer comunicação.
A primeira parte da missão foi cumprida, com júbilo. "Estou muito entusiasmado. Estou muito orgulhoso desta equipa. Meu Deus, foram anos de trabalho árduo. Até agora, esta tem sido uma missão absolutamente maravilhosa", disse o Diretor Executivo da ULA, Troy Bruno. "De regresso à Lua. A nossa equipa tem feito um trabalho tão bom. Isto é simplesmente... é difícil de descrever", acrescentou.
A missão está a ser operada por uma empresa privada, a Astrobotic, que recebeu 108 milhões de dólares (cerca de 100 milhões de euros) da NASA para colocar na Lua o módulo, batizado de Peregrino, em referência ao falcão-peregrino, considerada a ave mais rápida do planeta. Uma vez na órbita lunar, a sonda esperará até que as condições de iluminação sejam adequadas para tentar alunar, o que deve ocorrer até 23 de fevereiro.
Se o módulo conseguir alunar, a da Astrobotic, poderá tornar-se a primeira empresa privada a conseguir esse feito. "Liderar o regresso da América à superfície da Lua, pela primeira vez desde a Apollo, é uma honra tremenda", disse o chefe daquela empresa, John Thornton, na sexta-feira, em conferência de imprensa.
A missão da Astrobotic leva cerca de 20 unidades de carga, entre as quais instrumentos científicos da NASA para começar a preparar o caminho para o lançamento da missão Artemis, que pretende voltar a colocar humanos na Lua entre 2025 e 2026, com a intenção de criar condições para a instalação de uma base no satélite natural da terra.
"Temos muitas, muitas questões científicas sobre a Lua, sobre todas as diferentes áreas da Lua, mas particularmente sobre o Polo Sul", onde se estima que haja gelo, a fonte de água necessária para a instalação de uma base. "Gostaríamos de estar mais bem preparados para planear melhor as visitas dos astronautas que irão ao Polo Sul e, eventualmente, o acampamento base Artemis será aí instalado. E queremos realmente tentar criar um ecossistema lunar de empresas que sejam muito competentes e bem sucedidas na prestação de serviços para levar coisas à Lua", disse Joel Kearns, um dos responsáveis da NASA pelo projeto, citado pela revista especializada space.com
As cinco experiências patrocinadas pela NASA incluem dois instrumentos para monitorizar a radiação ambiental, "ajudando a preparar melhor o envio de missões tripuladas de volta à Lua", disse Paul Niles, cientista de projeto da NASA para o programa Commercial Lunar Payload Services, o braço da NASA que financiou o Peregrine, citado pela CNN. Outros instrumentos vão analisar a composição do solo lunar, procurando água e moléculas de hidroxilo. A NASA também estudará a atmosfera superfina da Lua.
Os outros 15 itens da carga pertencem a uma variada gama de clientes. Alguns são também carga científica de países como o México ou uma experiência robótica de uma empresa privada britânica, além de memorabília da empresa germânica de navegação DHL. O Peregrine leva também restos mortais em nome de duas empresas comerciais de funerais espaciais, a Elysium Space e a Celestis, que, segundo a página na Internet cobra 10 mil dólares para transportar as cinzas até à Lua.
Entre os restos mortais que a Celestis leva para a Lua estão amostras de ADN de três antigos presidentes dos EUA, John F. Kennedy, George Washington e Dwight Eisenhower. Fazem parte de um carregamento espacial denominado “Enterprise Flight”, que contém 265 cápsulas com cinzas do "criador e vários membros do elenco da série original de televisão Star Trek juntamente com pessoas de todos os sectores da vida, interesses e vocações", lê-se no site da empresa.
Segundo a Celestis, esta missão permitirá a Philip Chapman ascender ao espaço pela primeira vez. Selecionado para o corpo de astronautas em 1967, fez parte dos escolhidos do programa Apollo, mas nunca voou. Incluído na carga da Enterprise Flight, dirige-se, juntamente com as outras cápsulas, para a eternidade do espaço profundo, onde passará a orbitar o Sol.