Portugal é um dos únicos que acredita na independência europeia em matéria de Defesa. Há um consenso generalizado sobre a necessidade de aumentar a despesa. Cimeira da NATO arranca esta terça-feira, em Haia.
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Se é evidente para maior parte dos países europeus de que é urgente aumentar os gastos com a Defesa, a independência face aos Estados Unidos levanta mais dúvidas. Segundo uma sondagem do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR, na sigla em inglês), há um grande ceticismo quanto à possibilidade de a Europa se tornar autónoma da Administração de Donald Trump em matéria de Defesa e Segurança. Portugal é exceção à regra.
Dos 12 países auscultados, apenas a Dinamarca e Portugal são otimistas quanto ao objetivo de tornar a União Europeia (UE) independente nos próximos cinco anos, com 52% e 50%, respetivamente, a acreditarem na possibilidade. Nos restantes inquiridos, a audiência mostra-se dividida. Em França, por exemplo, 44% pensam que é possível, enquanto 39% consideram ser difícil ou mesmo impossível. A pesquisa encomendada pelo ECFR, a propósito da Cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), que começa na terça-feira, em Haia, mostra um consenso generalizado quanto à necessidade de apostar na Defesa, com a exceção da Itália, que é contra. Porém, metade dos inquiridos considera que o país gasta demasiado em Defesa, em detrimento de outros setores públicos.
A Dinamarca e a Estónia, que investem 3,15% e 2,37% do PIB, respetivamente, são favoráveis ao aumento para 5% defendido pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Trump já ameaçou deixar de proteger os aliados que não cumpram o objetivo, mas descartou que a meta seja aplicada aos EUA. Todos os países inquiridos consideraram que o regresso de Trump à Casa Branca prejudicou o vínculo entre a UE e os Estados Unidos, mas a maioria acredita que a relação vai melhorar quando o presidente norte-americano deixar o cargo.
Aliás, a sondagem - que teve como propósito avaliar a Defesa europeia no contexto da "segunda volta" de Trump - concluiu que o presidente norte-americano mudou a forma como os partidos de extrema-direita se posicionam face aos EUA, assumindo, sem pudor, o apoio ao republicano.
Receio em Portugal
Com a tensão geopolítica a adensar-se, há receios que surgem entre os europeus. O mais transversal é o medo do uso de armas nucleares, seguido de uma eventual Terceira Guerra Mundial. Portugal é, sem dúvida, o país onde as preocupações são mais firmadas, nomeadamente que a União Europeia ou a própria NATO se desmoronem. Por outro lado, é na Dinamarca que há menos preocupação.
É em Portugal que há o maior receio de uma Terceira Guerra Mundial (82%), seguido de Espanha (73%) e da Polónia (65%). O índice é menos elevado na Dinamarca (32%) e no Reino Unido (36%). Sobre a utilização de armas nucleares, 85% dos portugueses inquiridos admitiram ter receio deste acontecimento no dia a dia. A preocupação também é elevada em Espanha (76%), na Polónia (64%) e na Roménia (62%). A Dinamarca também é o país onde o receio é menos premente (34%).
O nosso país é também aquele que tem mais medo de a União Europeia se desmoronar (65%), da queda da NATO (66%) e de outra guerra de larga escala na Europa, além da Ucrânia (77%).
Sobre o regresso do serviço militar obrigatório, as maiorias também defendem a reintrodução, mas com dados a destacar. A Espanha, a Hungria e o Reino Unido são os menos favoráveis, ao contrário da França, Alemanha e Polónia.