Esta quarta-feira, os sauditas vão ao cinema. Têm "Black Panther" no cartaz e as portas de uma sala de Riade, a capital, abertas. Estiveram fechadas durante mais de 35 anos, fruto do ultraconservadorismo religioso que varreu a Arábia Saudita na década de 1980 e seguintes.
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O regresso das exibições cinematográficas é uma das reformas sociais preconizadas pelo príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman (MBS, como é conhecido), para modernizar o país e alterar o paradigma económico, assente na exploração petrolífera.
A Arábia Saudita assinou um acordo com a norte-americana AMC Entertainment Holdings para inaugurar 30 a 40 cinemas - que não serão segregados por género, ao contrário da maioria dos lugares públicos do reino - em cerca de 15 cidades sauditas ao longo dos próximos cinco anos.
Impulsionar a economia
O êxito da iniciativa não estará em risco, até porque os sauditas são ávidos consumidores da cultura ocidental. Por exemplo, apesar da proibição do cinema, filmes de Hollywood e séries de televisão recentes são amplamente vistos em casa.
"A reabertura de cinemas ajudará a impulsionar a economia local, aumentando os gastos das famílias com entretenimento e apoiando a criação de empregos", afirmou o ministro da Cultura e Informação, Awwad Alawwad.
A medida é a segunda ação reformista no âmbito da cultura. Em outubro passado, regressaram os concertos e os espetáculos.
Outra das "ideias" de MBS foi a suspensão da proibição de as mulheres conduzirem. O volante será também delas a partir de junho.
E já podem ir ao futebol, ainda que os respetivos assentos estejam confinados a áreas designadas como "lugares de famílias". Ainda assim, mais um local público onde homens e mulheres podem ser vistos juntos.
Por outro lado, o príncipe herdeiro começou um processo para o país regressar "ao que era. Um país de um Islão moderado, aberto a todas as religiões, tradições e pessoas".
Num discurso para investidores nacionais e estrangeiros, em Riade, MBS prometeu acabar com o extremismo religioso no país. "Setenta por cento dos sauditas têm menos de 30 anos. Não vamos perder outros 30 a lidar com ideias extremistas. Vamos erradicar o que sobrou delas muito em breve. Queremos viver uma vida normal."
Para diminuir a dependência do reino em relação ao petróleo, bin Salman pretende privatizar parte da empresa estatal petrolífera Aramco e elevar o valor do investimento externo na Arábia Saudita.
No entanto, o analista alemão Sebastian Sons realça os perigos da ação reformadora de MBS: "Deve ter cuidado para manter um certo equilíbrio na rota, para não insultar os clérigos, pois algumas das suas decisões são polémicas". Além disso, convém não esquecer que a Arábia Saudita "inspirou" certos grupos terroristas.