"Finalmente, livres". Milhares de sírios celebram na Europa a queda de Bashar al-Assad
O derrube do regime sírio de Bashar al-Assad está a ser assinalado por manifestantes em vários países europeus, que celebram o que consideram ser "o regresso à liberdade" e manifestam o desejo de paz para o seu país.
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"Finalmente estamos livres!", diz Bassam al-Hamada, de 39 anos, com um sorriso no rosto, em Berlim, uma das muitas cidades alemãs onde a maior diáspora síria na União Europeia (UE) se tem reunido para celebrar a queda de al-Assad.
Da Grécia -- que foi a porta de entrada na União para centenas de milhares de sírios que fugiram da guerra civil entre 2011 e 2016 -- à Suécia - o segundo país que acolheu o maior número de sírios depois da Alemanha, na UE - passando pelo Reino Unido, realizaram-se comícios, reunindo sempre centenas ou milhares de pessoas.
Em Berlim, numa grande praça do popular bairro de Kreuzberg, cerca de 5.000 manifestantes, segundo a polícia, agitavam bandeiras verdes, brancas, pretas e vermelhas, onde por vezes se lia "Síria Livre" ou "Liberdade".
O mesmo júbilo foi sentido na esplanada em frente ao Parlamento grego, no centro de Atenas, onde a multidão gritava "Síria, liberdade!" e "juntos, juntos, juntos".
Em Estocolmo, a televisão TV4 noticiou a exibição da bandeira da oposição síria no mastro da embaixada síria e, em Viena, as televisões revelaram a palavra "liberdade" escrita em muitas bandeiras empunhadas por sírios.
Em Trafalgar Square, no centro de Londres, centenas de manifestantes gritavam "A Síria é nossa, não da família Assad".
Em Berlim, muitos vieram com famílias, com mulheres e crianças, com as caras pintadas com as cores nacionais da Síria, num ambiente relativamente calmo, apesar do lançamento de algumas bombas de fumo.
A Alemanha tem cerca de um milhão de sírios, a maioria dos quais chegou após o início da guerra civil em 2011, nomeadamente durante a crise migratória de 2015, com uma grande comunidade estabelecida em Berlim.
À luz das convulsões na Síria, a extrema-direita alemã, que prosperou com os receios gerados em parte da opinião pública pela chegada de migrantes, rejeita antecipadamente qualquer novo "fluxo migratório".
"As fronteiras estão fechadas, já não aceitamos ninguém!", prometeu uma das principais líderes da extrema-direita, Alice Weidel, numa mensagem divulgada hoje na rede social X.
Muitos manifestantes em várias cidades europeias exigem que Bashar al-Assad seja julgado perante um tribunal internacional.
"Assad é o maior terrorista imaginável", diz Ahmad al-Hallabi, que fugiu da Síria através da Turquia e da Grécia em 2015 e vive agora em Berlim.
"Há dez anos estive na Síria e vi coisas que ninguém deveria ver, coisas que não esquecemos", diz este mecânico, natural de Alepo.
"Espero a paz e que tudo o que al-Assad e o seu povo destruíram seja reconstruído", concluiu al-Hallabi.
Os rebeldes declararam hoje Damasco 'livre' do Presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, para derrotar o governo sírio.
O Presidente sírio, no poder há 24 anos, deixou o país perante a ofensiva rebelde, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), desconhecendo-se, para já, o seu paradeiro.
Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, enquanto a maioria dos países ocidentais e árabes se mostrou satisfeita por Damasco deixar de estar nas mãos do clã Assad.
No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.