Sondagens não colocam de parte uma surpresa na primeira volta das presidenciais no domingo. Candidatos Emmanuel Macron e Marine Le Pen são favoritos a passar à segunda volta, disputada no próximo dia 24.
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Quase 50 milhões de franceses estão inscritos para votar amanhã e escolher o presidente do país, com o atual chefe do Estado, Emmanuel Macron, de centro, e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen como favoritos, após uma campanha atípica marcada pela guerra na Ucrânia. Dos dez candidatos restantes, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon é o único que aparece nas sondagens com algumas hipóteses de impedir a segunda volta entre Macron e Le Pen.
O atual presidente e a líder da União Nacional (Rassemblement National, RN) disputaram a segunda volta em 2017, quando o centrista venceu com 66,1%. Agora, a vantagem situa-se entre os três e os oito pontos, dizem as sondagens. Embora o cenário pareça semelhante ao de há cinco anos, o país não é o mesmo. A pandemia deixou milhões de pessoas confinadas e a guerra voltou a afetar a Europa.
Um editorial recente do "Ouest-France", jornal regional mais vendido do país, cita a guerra na Ucrânia, a luta contra a mudança climática e a "conservação da unidade dos franceses" como os principais desafios do próximo chefe do Estado. A eleição na potência económica e nuclear será acompanhada com atenção pelos outros países, especialmente se Le Pen conseguir o que já foi considerado impossível por alguns: levar a extrema-direita ao poder, o que a acontecer será um novo revés para a União Europeia (UE).
O conflito no Leste da Europa deu impulso à candidatura de Macron, mas a imagem do favorito foi abalada na reta final da campanha por uma polémica sobre o uso em larga escala de consultorias pelo Governo.
"Fuga escandalosa"
A controvérsia provocou o regresso da imagem de "presidente dos ricos", que já havia afetado o Governo durante o movimento dos "coletes amarelos", protestos que abalaram a primeira metade do mandato de Macron com as críticas à política para as classes populares.
Macron, que adiou até o último momento o início da campanha, decidiu não participar em debates antes da primeira volta. Os adversários, como Valérie Pécresse, criticaram-no pela "fuga escandalosa". O candidato do partido A República em Marcha apostou em grandes entrevistas coletivas ou conversas com os cidadãos para expor o seu programa, que retoma o impulso reformista interrompido pela pandemia. A principal medida: adiar a idade de reforma para os 65 anos.
Mobilização geral
Receando uma alta taxa de abstenção, que uma das últimas sondagens fixa nos 30%, Macron pediu aos eleitores uma "mobilização geral" para evitar o "perigo extremista". O presidente-candidato também intensificou os ataques contra Le Pen, em virtude da sua suposta "complacência" com o presidente russo, Vladimir Putin, com quem a candidata se reuniu em 2017. A invasão russa da Ucrânia, porém, não prejudicou a imagem da candidata da União Nacional, que se apresentou como defensora do poder de compra, deixando em segundo plano as polémicas propostas sobre migração.
Os temas da extrema-direita dominaram o debate no final de 2021, mas foram deixados de lado à medida que as crises marcaram o ritmo da campanha: da pandemia à guerra, passando pelos distúrbios na Córsega ao aumento do preço da energia.
A entrada em cena de uma candidatura rival, a do extremista Éric Zemmour, ajudou Le Pen a moderar a sua imagem. Ao contrário de 2017, suavizou o discurso, embora mantenha no programa as ideias tradicionais da extrema-direita.
A grande surpresa da primeira volta pode ser Mélenchon, que se apresenta como o candidato do voto "útil" numa esquerda dividida. "Sentimos o nosso destino ao alcance da mão", disse durante um comício. Para alcançar o objetivo, precisa de superar Macron e Le Pen, que registam mais de 20% das intenções de voto.
Perfis
Partido: A República em Marcha
Idade: 44 anos
Mesmo pouco presente, Emmanuel Macron é o favorito dos franceses, tendo reforçado a popularidade após o início do conflito com a Ucrânia. Entre as principais medidas, propõe a reforma do sistema de pensões, que não concluiu no primeiro mandato, a subida da idade de reforma para 65 anos e condições mais restritas para a atribuição de ajudas sociais.
Partido: União Nacional
Idade: 53 anos
Recolhe a preferência de mais de 20% dos franceses, segundo as sondagens, o que coloca Marine Le Pen na senda de uma reedição do embate de 2017. Menos radical do que nas últimas eleições, deixou cair alguns temas da última campanha, como a saída do euro ou da UE, e insiste agora na diminuição dos impostos e no aumento dos salários.
JEAN-LUC MÉLENCHON
Partido: França Insubmissa
Idade: 70 anos
O líder da extrema-esquerda é terceiro nas preferências dos franceses. Jean-Luc Mélenchon quer refundar a República, propondo uma VI República, com maior recurso aos referendos e instituindo o voto obrigatório a partir dos 16 anos. Mélenchon quer ainda acabar com a atual divisão da França em regiões e baixar a idade da reforma para os 60 anos.