O líder da Renamo, principal partido de oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, entregou as armas da sua guarda pessoal e as forças especiais que invadiram a sua residência na Beira começaram a retirar-se do local.
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"Confirmamos a entrega de 16 armas Ak-47, uma pistola Tokarev, munições, um punhal e três carregadores", disse à imprensa Manuel de Araújo, um influente autarca do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior força política, ao ler o termo de entrega do armamento da guarda do presidente da Renamo.
Segundo Araújo, o material foi entregue pessoalmente por Afonso Dhlakama aos mediadores do processo de diálogo entre Governo e Renamo e estes, por sua vez, deixaram-no à responsabilidade dos representantes da polícia moçambicana, num ato testemunhado pela governadora da província de Sofala, Helena Taipo.
Os membros das forças especiais moçambicanas começaram a retirar-se do local, desconhecendo-se para onde foram levados os membros da segurança de Afonso Dhlakama detidos esta sexta-feira de manhã.
Um dia depois de ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, era esperada uma conferência de imprensa do líder da oposição na sua casa no bairro das Palmeiras, na Beira.
Ao início da tarde, além da polícia, encontravam-se reunidos com Afonso Dhlakama a governadora da província de Sofala, Helena Taipo, o arcebispo da Beira, Claudio Zuanna, e mediadores do processo de diálogo entre Governo e Renamo, alguns dos quais também líderes religiosos.
Contactado pela Lusa, o Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Sofala disse ser "inoportuno" pronunciar-se sobre os acontecimentos desta manhã (invasão da casa de Afonso Dhlakama).
Recentemente registaram-se três incidentes com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do partido.
A 12 de setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio, província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece por esclarecer.
A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou ao desaparecimento do líder da oposição para lugar desconhecido.
A Renamo disse que foi emboscada, enquanto a polícia acusou Dhlakama e os seus homens de terem iniciado o incidente ao abrirem fogo sobre uma viatura civil, matando o motorista, e disse que terão de responder criminalmente por homicídio.
Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e Renamo confrontaram-se novamente em Gondola, com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.