Guterres alerta que "isolamento é uma ilusão" e sai em defesa das Nações Unidas
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou hoje que o "isolamento é uma ilusão" e saiu em defesa do multilateralismo e da Organização das Nações Unidas, a qual considerou "uma bússola moral" e uma "guardiã do direito internacional".
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Na abertura do debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU, e num momento em que as Nações Unidas celebram 80 anos, Guterres recordou o cenário que levou à criação da organização, afirmando que os líderes da altura escolheram a cooperação em vez do caos, a lei em vez da ilegalidade, e a paz em vez do conflito.
"Esta escolha deu origem às Nações Unidas -- não como um sonho de perfeição, mas como uma estratégia prática para a sobrevivência da humanidade", disse, relembrando que muitos dos fundadores da ONU viram de perto os terrores dos campos de extermínio e da guerra.
"Conflitos atrozes" no Sudão, Ucrânia e Gaza como fruto da impunidade
Guterres denunciou que vários países atuam alheios às regras internacionais e avaliou que essa impunidade gerou alguns dos conflitos "mais atrozes" da atualidade, referindo diretamente o Sudão, Ucrânia e Gaza.
"Em todo o mundo, vemos países a agir como se as regras não se lhes aplicassem. Vemos humanos tratados como menos que humanos. E precisamos de denunciar isso. A impunidade é a mãe do caos -- e gerou alguns dos conflitos mais atrozes dos nossos tempos", disse Guterres no arranque do debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU.
Começando pelo Sudão, o líder da ONU observou que os civis estão a ser massacrados, mortos à fome e silenciados, num conflito para o qual "não há solução militar".
Guterres exortou todas as partes, "incluindo as presentes" no salão da Assembleia-Geral da ONU, a acabar com o apoio externo que alimenta o derramamento de sangue no Sudão. "Lutem pela proteção dos civis. O povo sudanês merece paz, dignidade e esperança", insistiu.
De seguida, Guterres direcionou as suas palavras para a guerra na Ucrânia, onde, frisou, a violência implacável continua a matar civis, a destruir infraestruturas civis e a ameaçar a paz e segurança globais.
O antigo primeiro-ministro português elogiou os recentes esforços diplomáticos dos Estados Unidos e de outros países em prol da paz na Ucrânia e apelou a um cessar-fogo total, que leve a uma paz justa e duradoura, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, as resoluções da ONU e o direito internacional.
António Guterres mencionou depois a guerra em Gaza, "onde a escala de morte e destruição está além de qualquer outro conflito" que acompanhou ao longo dos seus dois mandatos como secretário-geral. Em Gaza, "os horrores aproximam-se do seu monstruoso terceiro ano" e "são o resultado de decisões que desafiam a humanidade fundamental", lamentou.