A fuga de empresas da Catalunha face ao fantasma da saída de Espanha e da União Europeia gerou fissuras no setor independentista.
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Têm um objetivo comum: lutar pela independência da Catalunha. E conseguiram, com o seu projeto político, levar Espanha à maior crise de Estado dos últimos 40 anos.
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Contudo, dificilmente um setor político poderia incluir famílias ideológicas tão distintas como aqueles que protagonizam a atualidade política no país vizinho, da Direita historicamente catalanista do Partido Democrático da Catalunha (PdCat) aos anticapitalistas das Candidaturas de Unidade Popular (CUP).
Se até agora têm estado unidos na determinação em realizar um referendo considerado ilegal por Madrid, uma hipotética declaração unilateral de independência (DUI) tem causado fissuras no bloco separatista.
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A DUI fora anunciada para as 48 horas a seguir a votação - que se saldou com 90% de votos favoráveis à autodeterminação -, mas ainda não foi lançado o processo de rotura com Espanha. Uma hesitação no seio do Governo catalão que, tudo indica, estará relacionada com o "terramoto empresarial" pós-referendo, com a transferência das sedes de várias empresas catalãs para outras regiões de Espanha.
Muito ligado à burguesia catalã, o PdCat será o partido mais dividido. Até há cinco anos, a formação de Carles Puigdemont era simplesmente catalanista, limitando-se a defender os valores e tradições da Catalunha. O antigo partido Convergència tornou-se abertamente independentista a partir de 2012, quando o então líder, Artur Mas, foi a La Moncloa pedir a Mariano Rajoy um pacto fiscal (com o objetivo de a Catalunha passar a controlar os impostos que arrecada) e o presidente do Governo lhe respondeu com um rotundo "não".
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A partir daí, a formação passou a lutar por um referendo, juntando-se aos que sempre defenderam a autodeterminação da Catalunha. Nas eleições autonómicas de setembro de 2015 dá-se a primeira grande mudança de estratégia: o PdCat alia-se ao eterno rival, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), para formar a coligação separatista Junts pel Sí.
Desde a sua fundação, em 1931, que a ERC, liderada por Oriol Junqueras, é abertamente independentista, tendo sido, por isso, dos partidos que mais benefício eleitoral têm tido com o desafio separatista. Mas, até há poucos anos, o partido conformava-se com uma posição minoritária. O próprio porta-voz do partido no Congresso espanhol, o veterano Joan Tardà, admitia recentemente que nunca pensara que o processo independentista chegasse tão longe.
Fora da coligação, mas unida ao Junts pel Sí na luta pela independência, está a CUP. Desde as eleições de 2015, os dez deputados eleitos pela formação de Esquerda anticapitalista têm sido cruciais para assegurar uma maioria independentista no Parlamento catalão. Uma vez que depende do apoio da CUP, a Junts pel Sí já fez várias cedências ao partido de Anna Gabriel, a mais sonante das quais foi o afastamento do ex-líder Artur Mas e a substituição por Puigdemont.
Com uma forte implantação local, assente em assembleias de bairro e na democracia direta, a CUP tem admitido a aparente contradição de uma aliança com a direita ao eleger a independência como prioridade.
Um Parlamento fragmentado
As fortes divisões no Parlamento catalão refletem a fragmentação política da região. Totalmente contrários ao processo independentista estão o PP e o Ciudadanos, que juntos representam cerca de um quarto dos eleitores da Catalunha.
Numa posição mais moderada está o braço catalão do Podemos (Catalunya Sí Que es Pot), que defende a realização do referendo de autodeterminação, mas não a independência do território. Finalmente, os socialistas catalães mostram fortes divisões internas, inclinando-se em geral para a defesa do diálogo com Madrid na perspetiva da reforma constitucional.