O governo indiano substituiu o nome do país por uma palavra em sânscrito, uma língua ancestral do Nepal e da Índia, nos convites para jantar enviados aos convidados da cimeira do G20 desta semana.
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O convite para jantar da presidente Draupadi Murmu aos líderes estrangeiros presentes na cimeira descreve-a como "presidente de Bharat", uma antiga palavra sânscrita que muitos historiadores acreditam que remonta aos primeiros textos hindus e que significa "Índia" em hindi. Hindustão é outra palavra para nação e é frequentemente usada na literatura e outras formas de cultura popular, de acordo com o "Al Jazeera".
O país, que tem mais de 1,4 mil milhões de habitantes, é oficialmente conhecido pelos nomes Índia e Bharat, mas o primeiro é o mais utilizado, tanto nacional como internacionalmente, segundo a "Associated Press".
Isto ocorre numa altura em que, segundo a BBC, há rumores de que o governo indiano está a pensar mudar oficialmente o nome do país para Bharat. A imprensa indiana tem adiantado que o governo poderá apresentar uma resolução nesse sentido durante uma sessão especial do parlamento este mês, uma vez que não revelou a agenda da sessão que se realizará de 18 a 22 de setembro. Por outro lado, todos os sites oficiais da Índia mantém o termo “governo da Índia” e a Murmu continua a ser referida como presidente da Índia na rede social X (antigo Twitter).
Passado colonial
O convite surge dois dias depois de de Mohan Bhagwat, mentor ideológico do Partido do Povo Indiano, ter dito que o país devia chamar-se Bharat. "Às vezes usamos Índia para que aqueles que falam inglês entendam. Mas devemos parar de usar", disse Bhagwat.
O Partido do Povo Indiano, do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, argumenta que o nome "Índia" foi introduzido pelos colonos britânicos e é um “símbolo da escravidão”. Os britânicos governaram a Índia durante cerca de 200 anos até o país conquistar a independência em 1947.
“Outro golpe na mentalidade esclavagista”, disse o líder do partido do governo de Modi e principal funcionário eleito do estado de Uttarakhand, Pushkar Singh Dhami, no X.
Há muito tempo que o partido de Modi tenta apagar nomes relacionados com o passado mogol e colonial da Índia. Em 2015, a estrada Aurangzeb, em Nova Deli, em homenagem a um rei mogol, foi alterada para estrada Dr. APJ Abdul Kalam. No ano passado, o governo também rebatizou uma avenida da era colonial em Nova Deli, que é usada para desfiles militares cerimoniais.
Oposição critica uso do termo em convite
Por sua vez, o convite fez surgir críticas dos líderes da oposição, que a associaram a decisão à sua coligação recém-formada, denominada INDIA, um acrónimo para Aliança Inclusiva para o Desenvolvimento Nacional Indiano.
“Faz apenas algumas semanas desde que nomeámos a nossa aliança como INDIA e o BJP (Bharatiya Janata Party ou Partido do Povo Indiano na tradução para português) começou a enviar convites com República de Bharat em vez de República da Índia”, escrever Manoj Jha, líder do partido Rashtriya Janata Dal do estado de Bihar.
Já o deputado do Congresso Shashi Tharoor disse que os indianos deveriam “continuar a usar ambas as palavras, em vez de renunciar à nossa reivindicação de um nome que cheira a história, um nome que é reconhecido em todo o Mundo”. “Embora não haja nenhuma objeção constitucional a chamar a Índia de 'Bharat', que é um dos dois nomes oficiais do país, espero que o governo não seja tão tolo a ponto de dispensar completamente 'Índia', que tem um valor de marca incalculável construído ao longo de séculos”, escreveu.
"Bharat" presente na constituição indiana
Este não é o primeiro caso em que o governo indiano utiliza o termo "Bharat" associado ao G20. Segundo a BBC, utilizou o nome num manual chamado "Bharat, A Mãe da Democracia" para delegados estrangeiros.
O nome também está presente na constituição indiana, que se refere à Índia como Bharat, embora apenas uma vez: o Artigo 1 diz que "a Índia, isto é Bharat, será uma União de Estados". No resto do documento, o país é sempre referido como Índia.