"O fogo vinha de todos os lados", contam os turistas, obrigados a fugir para a praia e a deixar as malas para trás. As temperaturas elevadas e as constantes mudanças de direção do vento complicam o trabalho dos bombeiros.
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Depois de, no sábado, a ilha de Rodes ter sido alvo da "maior evacuação já realizada" na Grécia devido aos incêndios, as autoridades mandaram, esta segunda-feira, retirar os cidadãos de várias localidades da ilha de Corfu.
Quem está nas localidades de Santa Magoula, Porta, Palia Perithia e Sinies, na ilha grega de Corfu, "tem que abandonar o local em direção a Kasiopi", informou o serviço de emergência grego.
Do outro lado do país, perto da Turquia, na ilha de Rodes, cerca de 30 mil pessoas tiveram de deixar as casas ou hotéis onde estavam alojadas, no sábado, por causa dos incêndios. Segundo a polícia local, cerca de 19 mil pessoas foram retiradas por precaução,16 mil por terra e três mil por mar.
As temperaturas elevadas e as constantes mudanças de direção do vento estão a dificultar o trabalho dos 266 bombeiros, 49 veículos terrestres e sete aviões que estão na ilha a combater as chamas.
Milhares de pessoas tiveram de passar a noite em ginásios, escolas e centros de conferências.
A ilha de Rodes, com mais de 100 mil habitantes, é um dos destinos turísticos mais populares da Grécia e está com fogos ativos há seis dias. No ano passado, a ilha recebeu cerca de 2,5 milhões de turistas.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros grego criou uma unidade de crise em Atenas para facilitar o repatriamento de turistas estrangeiros.
Voos cancelados
Entretanto, o operador turístico TUI anunciou a suspensão de todos os voos de passageiros para a ilha de Rodes, devido aos incêndios, medida que se mantém até amanhã.
"Até terça-feira, o grupo alemão não efetuará novos voos de turistas para a ilha", declarou à AFP a porta-voz Linda Jonczyk, acrescentando que continuam a operar voos vazios para retirar os milhares de turistas que ainda se encontram na ilha.
A britânica JeT2 e a holandesa Corendon anunciaram uma interrupção semelhante, segundo a imprensa local.
A Embaixada de Portugal em Atenas assegurou que está a acompanhar os incêndios florestais na Grécia e "está a prestar todo o apoio necessário aos portugueses que se encontrem no país e em particular na ilha de Rodes", não só apoiando os que entraram em contacto com a embaixada como contactando os residentes registados naquela secção consular.
Todos os locais arqueológicos da Grécia, incluindo a famosa Acrópole de Atenas, estarão fechados ao público durante as horas mais quentes do dia.
"Inferno na Terra"
"Corremos 10 quilómetros com toda a nossa bagagem para escapar às chamas com 42ºC", contou a turista alemã Lena Schwarz, depois de chegar ao aeroporto de Hanover na noite de domingo. A turista de 38 anos relatou à AFP que a viagem de Rodes para o aeroporto foi um "inferno na Terra".
"Ficámos no hotel até à última e o fogo vinha de todos os lados", contou também Oxana Neb, de 50 anos, acresentando que a evacuação foi "muito má" e que acabou por se juntar a outros hóspedes que corriam para a praia, abandonando as malas pelo caminho.
Este verão, o país registou, segundo os especialistas, uma das ondas de calor mais longas dos últimos anos, com o termómetro a atingir os 45ºC no fim de semana. Esta segunda-feira, o calor deverá abrandar ligeiramente, com temperaturas de 37ºC em Atenas mas, na terça-feira, prevê-se um novo aumento.
Temperaturas extremas afetam milhões
Desde o início do verão, as temperaturas extremas estão a afetar dezenas de milhões de pessoas em grande parte do hemisfério norte. Segundo previsões de especialistas, julho pode ser o mês mais quente alguma vez registado na história.
Com ondas de calor na Europa, América e Ásia, o mês de julho está perto de se tornar o mais quente, não apenas desde o início do registo das temperaturas, mas também em "séculos ou milhares de anos", garantiu o diretor de climatologia da NASA, Gavin Schmidt.
O planeta sofreu um aumento de temperatura de cerca de 1,2ºC como consequência da atividade humana, principalmente devido à utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás).