Investigador espanhol morreu infetado com doença "das vacas loucas", que estudava às escondidas
A Universidade de Barcelona está a investigar amostras não autorizadas da doença "das vacas loucas" encontradas no laboratório de um cientista que morreu no ano passado, aos 45 anos, com sintomas da doença.
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Um cientista da Universidade de Barcelona terá estudado, à revelia da faculdade, a doença Creutzfeld-Jakob, que ficou conhecida como a doença das "vacas loucas", uma patologia mental degenerativa rara, e que morreu, em 2022, com sintomas da mesma. A universidade está a investigar os contornos do caso, avança o diário espanhol "El País".
O docente tinha um grupo de investigação próprio e, em conjunto com a esposa, dedicava-se ao estudo de líquido cefalorraquidiano usado para diagnosticar demências.
O bioquímico, que ficou de baixa em novembro de 2020, terá contado a alguns colegas que tinha sintomas da doença das "vacas loucas", pedindo-lhes que guardassem segredo, e escondeu o diagnóstico, de acordo com o mesmo jornal.
Nessa altura, o responsável pelo laboratório descobriu num congelador amostras não autorizadas de líquido cefalorraquidiano de pessoas com a doença, mas também de animais, tendo o espaço sido encerrado para descontaminação.
Doença gerou o pânico durante a década de 90
Segundo a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), a doença das "vacas loucas" é uma doença neurodegenerativa fatal, "que provoca lesões esponjosas no cérebro e na espinal-medula dos bovinos". A transmissão para humanos ocorre quando se consome carne contaminada.
O agente responsável pela transmissão da doença chama-se prião.
O primeiro caso surgiu em novembro de 1986, no Reino Unido, mas só dez anos depois se confirmou a infeção também em humanos, o que provocou o pânico entre a população. A DGAV explica que a infeção começou quando algumas vacas comeram "rações contaminadas" com priões provenientes de "cérebros, espinal-medula, intestinos, entre outros subprodutos, de animais infetados com priões".
Em Portugal, o Governo então liderado por António Guterres reagiu com a proibição da importação de carne de bovino e ovino proveniente do Reino Unido. No mesmo ano foi lançado o Plano Nacional de erradicação da doença.
A primeira vítima mortal em território portugues foi uma mulher, com 75 anos, no Porto.
A estirpe investigada pelo cientista da Universidade Barcelona é uma nova variante do vírus, que surgiu em meados da década de 2000. Em Portugal, esta variante matou um rapaz de 14 anos, em 2007, e uma rapariga de 16, em 2009. A rapariga viveu com a doença durante dois anos.