Numa altura em que as forças israelitas estão a perder um elevado número de militares no terreno, os EUA assumiram uma posição crítica em relação às ações do Estado hebraico. Aprovação de resolução na ONU mostra que a comunidade internacional deseja um cessar-fogo o quanto antes.
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Poucos dias após os EUA terem vetado uma proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, mostrando estar do lado de Israel na ofensiva contra o Hamas, começam a surgir as primeiras divergências entre os dois países aliados. As críticas de Joe Biden, presidente norte-americano, ao Governo de Benjamin Netanyahu e a aprovação esmagadora da resolução da Assembleia-Geral que defende uma paragem dos confrontos no enclave estão a deixar o Estado judaico numa encruzilhada que poderá resultar num isolamento diplomático.
Depois de ter vindo a demonstrar um apoio incondicional a Israel, Biden referiu, esta terça-feira, numa conferência de imprensa durante um evento de angariação de fundos, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deveria remodelar o Governo que lidera, classificando-o como "o mais conservador da História" do país. O democrata lamentou que, ao contrário de Washington, Telavive não está interessado "numa solução de dois Estados", trazendo à tona a primeira grande dissonância entre as duas nações amigas. Além disso, o líder da Casa Branca alertou para o facto de Israel estar "a começar a perder o apoio" da comunidade internacional, perante os ataques indiscriminados contra civis palestinianos na Faixa de Gaza.
"Temos de nos certificar de que Bibi compreende que tem de tomar algumas medidas para se fortalecer. Não podemos dizer não ao Estado palestiniano”, referiu o presidente dos EUA.
Netanyahu também não fez por esconder as diferenças que, mais de dois meses após o ataque do Hamas em território israelita, o afastam de Biden. O primeiro-ministro reconheceu as "divergências" e deixou claro: "Não vou permitir que Israel cometa o erro de Oslo", assinalou, em referência aos acordos assinados há 30 anos, que abriram portas à criação da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP).
Aos olhos da Casa Branca, o regresso da liderança da ANP à Faixa de Gaza poderia ser uma boa solução para uma fase pós-guerra, porém, Netanyahu descarta esta possibilidade, fazendo emergir mais um ponto de discórdia com os norte-americanos. "Depois do grande sacrifício dos nossos civis e dos nossos soldados, não permitirei que aqueles que educam, apoiam e financiam o terrorismo entrem em Gaza", clarificou.
Baixas entre as forças israelitas
Apesar do voto contra dos EUA, que não concordam com o facto de os países não condenarem diretamente a ação do Hamas desencadeada a 7 de outubro, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou, esta terça-feira, com apoio esmagador de 153 países (entre eles Portugal), a primeira resolução não vinculativa que exige um cessar-fogo humanitário na estreita faixa de terra.
Também os primeiros-ministros do Canadá, Austrália e Nova Zelândia emitiram, esta terça-feira, um comunicado conjunto no qual pedem um "cessar-fogo sustentável" na Faixa de Gaza. "Estamos alarmados com a diminuição do espaço seguro para civis. O preço de derrotar o Hamas não pode ser o sofrimento contínuo de todos palestinianos", lembraram os líderes, cita a agência Reuters. Recentemente, Justin Trudeau, chefe do Executivo canadiano, frisou que o "assassinato de mulheres, crianças e bebés" no enclave deveria parar "de imediato" - palavras que foram repreendidas por Netanyahu nas redes sociais.
Numa altura em que estão a decorrer os mais intensos combates no Norte e no Sul da Faixa de Gaza, noticia a agência Reuters, as tropas israelitas relataram, esta quarta-feira, o maior número de perdas internas em apenas um dia: 10 militares. Entre as baixas das forças do Estado hebraico está um coronel, o oficial de mais alta patente já morto ao longo da operação terrestre.
De acordo com a Rádio do Exército, a maioria das mortes ocorreu no distrito de Shejaiya, na Cidade de Gaza, no Norte do enclave, quando uma unidade de infantaria entrou num prédio armadilhado e acabou por perder o contacto com a base. Os soldados acabaram por morrer no seguimento de uma explosão.