Mais três cidadãos israelitas, todos homens, sequestrados na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, foram, este sábado, libertados pelo Hamas como parte do acordo de cessar-fogo. Em troca, as autoridades israelitas deverão libertar hoje 183 palestinianos detidos em prisões de Israel. A fronteira de Rafah foi aberta.
Corpo do artigo
Yarden Bibas (israelita), Ofer Kalderon (luso-franco-israelita) e Keith Siegel (americano-israelita): os dois primeiros foram esta manhã entregues à Cruz Vermelha em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza, e mais tarde recebidos por militares israelitas; o terceiro foi libertado no porto da Cidade de Gaza, centro do território.
Yarden Bibas, de 35 anos, o primeiro a ser libertado, foi levado para Gaza com a mulher e os dois filhos, Kfir e Ariel, os reféns mais novos raptados pelo Hamas em outubro de 2023. Foram os quatro, mas Bibas regressa sozinho, numa altura em que não são conhecidas informações sobre o estado de saúde da família.
Como Bibas, também Ofer Kalderon, com cidadanias israelita, portuguesa e francesa, foi entregue aos serviços da Cruz Vermelha, no que, escreve o "The Guardian", terá sido uma entrega mais organizada do que as anteriores. Kalderon, de 54 anos, obteve a nacionalidade portuguesa pela sua origem sefardita - é filho de David Kalderon, judeu de descendência sefardita e tem, por isso, direito à obtenção de nacionalidade lusa - depois de ter sido feito refém, a 7 de outubro de 2023.
O advogado José Ribeiro e Castro submeteu na altura ao Governo português um pedido de urgência por razões humanitárias na análise do seu processo, conseguindo que a Conservatória dos Registos Centrais emitisse a certidão de nascimento, confirmando a tripla nacionalidade. Hoje, o presidente da Comunidade Israelita do Porto (CIP), Gabriel Senderowicz, considerou que Kalderon é “um cidadão português genuíno”.
Numa nota publicada no X (antigo Twitter), o ministério português dos Negócios Estrangeiros, liderado por Paulo Rangel, escreveu que o Governo "saúda a libertação de mais três reféns e, muito em especial, a do também nacional português Ofer Kalderon". "Que este possa ser mais um passo para a paz, enquanto os libertados e suas famílias vivem um novo tempo de esperança", pode ler-se. Na mesma linha, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também saudou a libertação, que considerou ser "mais um passo para a concretização do cessar-fogo e a cessação permanente do conflito na região".
Os dois homens foram inicialmente levados até um palanque, com um cenário que incluía um grande póster com o líder morto do Hamas, Yahya Sinwar. Acenando aos combatentes do grupo palestiniano islamista, seguravam ambos um certificado de “decisão de libertação”.
O terceiro refém, o americano-israelita Keith Siegel, o último do grupo libertado hoje, foi libertado no porto da Cidade de Gaza, onde subiu também a um palco improvisado, acompanhando por combatentes das brigadas Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas.
Os três reféns hoje libertados somam-se às sete mulheres que já regressaram a casa na sequência das duas primeiras trocas, a 19 e 25 de janeiro.
Também hoje, e pela primeira vez em quase nove meses, foi aberta a passagem de fronteira de Rafah para permitir que palestinianos doentes e feridos em Gaza viajem para o Egito, para tratamento médico.
Israel vai libertar 183 palestinianos, maioria detida sem julgamento
Por seu turno, Israel libertará hoje 183 palestinianos detidos em território israelita no sábado, indicou uma organização não-governamental (ONG) palestiniana à agência de notícias francesa AFP. Segundo o "The Guardian", apenas 72 deles foram condenados pelos tribunais israelitas, incluindo 14 que estavam a cumprir penas de prisão perpétua, enquanto os restantes 111 são palestinianos de Gaza detidos sem julgamento depois de 7 de outubro de 2023.
De acordo com os números publicados pela ONG israelita HaMoked, em janeiro havia mais de 10 mil palestinianos (incluindo crianças) nas prisões israelitas, dos quais apenas 1886 estavam classificados como "combatentes ilegais" (militantes do Hamas e de outros grupos armados).
A primeira fase, de seis semanas, do acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, deverá permitir a libertação de 33 reféns em troca da libertação de mais de 1900 palestinianos detidos por Israel nas suas prisões.que começou a 19 de janeiro. A comunidade internacional espera que a trégua, que começou no dia 19 de janeiro, quando cessaram os combates no enclave após mais de 15 meses de ofensiva, encerre a guerra mais mortal e destrutiva já travada entre Israel e o Hamas.