Procuradoria-Geral ucraniana indica que a invasão russa já matou 109 crianças e adolescentes. Do país, conseguiram fugir 1,5 milhões, metade do total de refugiados.
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"Cada pessoa com quem falo tem histórias de cortar o coração". Na cidade ucraniana de Lviv, Joe English, porta-voz da Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, soma relatos de medo e sofrimento de crianças e adolescentes, como um rapaz de 15 anos, que viu a sua mãe morrer num acidente com minas terrestres. É um dos seis milhões de menores que precisam de ajuda, enquanto mais de 1,5 milhões já fugiram e uma centena morreu devido à invasão russa.
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Segundo a Procuradoria-Geral ucraniana, 109 menores morreram e 130 ficaram feridos. Na praça central de Lviv, foram colocados 109 carrinhos de bebé em memória das vítimas. A ONU confirmou a morte de 59 menores e 74 feridos até anteontem.
Perante uma guerra devastadora que destrói famílias na Ucrânia, o JN preparou uma edição especial dedicada às crianças ucranianas, parte das quais conseguiu fugir com as mães e avós, deixando os pais na primeira linha de combate.
Em declarações ao JN, Joe English destacou que "mais de 1,5 milhões já fugiram em busca de segurança", metade do total de refugiados. Ou seja, "cerca de um menor por cada segundo nas últimas três semanas". No início do conflito, estavam 7,5 milhões em risco.
A preocupação vira-se para os que continuam a ser alvo de ataques russos. "A situação na Ucrânia é extremamente difícil", relatou o porta-voz, dando conta que, desde o início da guerra, a 24 de fevereiro, "nasceram mais de 4500 bebés".
Por sair do país estão bebés de barriga de aluguer e crianças adotadas. A isto soma-se a situação dramática dos cerca de 100 mil menores institucionalizados, 50% dos quais portadores de deficiência. São de orfanatos, colégios internos e estabelecimentos dedicados a casos de deficiência. No início de março, a destruição de um orfanato obrigou a transportar 60 crianças de Mariupol para Lviv.
Mesmo fora do país, a ameaça continua. Sobretudo para os menores que passam a fronteira sozinhos. Bruxelas anunciou uma rede anti-tráfico e as autoridades pedem que sejam registados rapidamente. Já a ONU avisa que não há adoções durante ou logo após esta emergência. Ao risco de tráfico, juntam-se ainda os de violência, exploração e abusos. Muitas crianças não acompanhadas foram para orfanatos polacos.
Saúde e ensino destruídos
Entretanto, o maior hospital pediátrico de Kiev, capital da Ucrânia, só acolhe agora cerca de 30 crianças vítimas da guerra; 600 foram levadas para Lviv ou para fora da Ucrânia, após o Hospital de Ohmadytter ter sido danificado por estilhaços de um míssil. Foi uma das 43 instalações de saúde atingidas até quarta-feira, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Quanto ao ensino, a UNICEF indicou que "mais de um milhão de crianças abandonaram a escola". Mas o país está a tentar manter o ensino, seja presencial em zonas sem conflito ou online nas restantes. Joe English nota que "nenhum pai fica confortável com a ideia de mandar os filhos para a escola sem saber se voltam ao fim do dia". Mas "há professores dedicados por todo o país a fazer o seu melhor", como em Lviv.
As crianças estão a ser integradas no ensino de outros países. Em Portugal, "um terço dos refugiados" tem de "zero a 13 anos", referiu a secretária de Estado para a Integração e Migrações. O ministro da Educação confirmou que 300 já estão inscritas no ensino em Portugal, que aceitou mais de 14 mil pedidos de proteção temporária.
Dados
1,5 milhões de crianças já fugiram (sendo metade do total de refugiados), sobretudo para Polónia, Roménia, Moldávia, Hungria, Eslováquia e Rússia.
109 menores morreram, diz a Procuradoria-Geral da Ucrânia. Já o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos refere a morte de 23 adolescentes e de 36 crianças, num total de 816 civis.
85 camiões com 858 toneladas de material de emergência foram enviados pela Unicef: 78 camiões para a Ucrânia e sete para os países vizinhos.
4500 bebés nasceram na Ucrânia desde o início do conflito, a 24 de fevereiro, segundo dados fornecidos pelo porta-voz da UNICEF que está em Lviv.
14 598 pedidos de proteção temporária formulados por cidadãos ucranianos em fuga devido à guerra foram aceites até ontem pelas autoridades portuguesas.