Cerca de 61 milhões de eleitores vão este domingo às urnas na Turquia para eleger um presidente e um parlamento, num sufrágio em que se joga a sobrevivência política do atual chefe de Estado, Recep Tayyip Erdogan.
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Os eleitores turcos vão hoje às urnas escolher os representantes parlamentares e o presidente. Recep Tayyip Erdogan enfrenta a sua maior ameaça política desde há 20 anos. O atual chefe de Estado, de um país abalado pela grave crise económica e pelas 50 mil mortes provocadas pelos sismos de fevereiro, aparece atrás de Kemal Kiliçdaroglu, candidato mais próximo do Ocidente.
"As urnas decidirão no domingo", afirmou o agora cauteloso Erdogan, após ser questionado na televisão turca, esta semana, sobre a hipótese de vencer no dia de hoje. O tom incomum da declaração ocorreu perante a perspetiva de uma derrota na eleição presidencial ainda na primeira volta. Erdogan tem entre 44% e 46% das intenções de voto nas últimas sondagens. O opositor de Centro-Esquerda, Kiliçdaroglu, do Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla em turco), aparece em alguns levantamentos com entre 49% e 51% das intenções de voto.
O conservador e islamita Erdogan, do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, sigla turca), liderou o Governo turco em 16 dos últimos 20 anos, exercendo exclusivamente o cargo de chefe de Estado entre 2014 e 2018, quando conseguiu aprovar uma reforma constitucional que alterou o sistema político do parlamentarismo para o presidencialismo. A mudança, que fez com que Erdogan acumulasse poderes e permitiu que concorresse à cadeira presidencial pela terceira vez, foi uma resposta a uma tentativa de golpe feita por alas militares, em 2016.
Tentativa esta recordada por Erdogan, na sexta-feira, numa mensagem publicada no Twitter. "Se for necessário, tal como na noite de 15 de julho [de 2016, data do golpe], defenderemos a nossa independência e o nosso futuro, inclusive com as nossas vidas", escreveu o líder do AKP. A retórica foi similar à do ministro do Interior, Süleyman Soylu, que, no final de abril, disse que o 14 de maio seria uma "tentativa de golpe político pelo Ocidente".
Rússia acusada de manipulação
Ao mesmo tempo que Ancara ataca o Ocidente, o opositor acusa a Rússia de interferência no escrutínio. "Caros amigos russos, vocês estão por trás das montagens, conspirações, falsificações e gravações que vieram à tona neste país", disse Kemal Kiliçdaroglu no Twitter, que exigiu que as autoridades em Moscovo, a partir de 15 de maio, não "toquem no Estado turco". Um porta-voz do Kremlin rejeitou "firmemente" as declarações do líder do CHP, reiterando que o Governo russo não cometeu "nenhuma ingerência" e que "aprecia muito" as relações com a Turquia.
Kiliçdaroglu fez tais afirmações após a divulgação, esta semana, de um vídeo de teor sexual com a suposta presença do então candidato Muharrem Ince, do Partido da Pátria (MP, na sigla em turco). Este alegou ter sido vítima de uma manipulação de imagens. Em seguida, Ince desistiu de concorrer à presidência. Ince fundou o MP em 2021, após uma dissidência com o CHP, partido pelo qual concorreu às presidenciais de 2018.
A proximidade ideológica entre os dois candidatos pode beneficiar o secularista e laicista Kiliçdaroglu, que comanda uma aliança de seis partidos e que conta ainda com o apoio dos curdos. Ince, que chegou a ter perto de 10% das intenções de voto nas sondagens, saiu da corrida presidencial, aparecendo em quarto lugar, com cerca de 1% a 2%.
Pormenores
Aumento de 45% do salário mínimo
Erdogan anunciou esta semana um aumento de 45% do salário mínimo dos funcionários públicos, com o novo ordenado a chegar às 15 mil liras turcas (pouco mais de 700 euros).
Campo de petróleo
O presidente celebrou a descoberta de um campo de petróleo perto da fronteira com a Síria, capaz de produzir 100 mil barris por dia, e que tornaria a Turquia "independente".
Morte de líder do EI
Erdogan anunciou ainda que as forças de inteligência turcas mataram o líder do Estado Islâmico (EI), numa operação na Síria, no final de abril.