O Governo espanhol vai enviar um navio da Marinha para recolher os cerca de 100 migrantes a bordo do navio humanitário "Open Arms" e levá-los ao porto de Palma, em Maiorca, anunciou a embaixada em Lisboa.
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De acordo com um comunicado enviado à Lusa pela embaixada espanhola em Portugal, o navio "Audaz" irá partir às 17 horas (16 horas em Portugal continental) da base de Rota, em Cádis, em direção à ilha italiana de Lampedusa.
O "Audaz" navegará durante três dias até Lampedusa
"O Governo [espanhol] considera que esta é a opção mais adequada para resolver, ainda esta semana, esta emergência humanitária", refere a embaixada no comunicado.
O "Audaz" começou os preparativos para a viagem esta manhã, juntando provisões para ir dar apoio ao navio "Open Arms" e aos seus ocupantes.
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O navio humanitário "Open Arms" resgatou, em 1 de agosto, 134 pessoas do mar Mediterrâneo ao largo da Líbia, mas os dois países mais próximos, Itália e Malta, recusaram-lhe o acesso aos seus portos.
Duas semanas depois, a organização não-governamental espanhola que opera o navio, a Proativa Open Arms, avisou que a situação estava "fora de controlo", num vídeo gravado numa lancha frente ao navio.
"A partir de hoje não nos podemos sentir responsáveis nem garantir a segurança dos 134 migrantes e dos 19 voluntários da tripulação que estão sequestrados no 'Open Arms', porque já é impossível manter a calma. A qualquer momento pode acontecer um motim e nós não o poderemos travar", alertou a ONG.
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No sábado, o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, autorizou o desembarque de 29 menores a bordo do navio, e, no dia seguinte, o Governo espanhol propôs receber o navio em Algeciras face à "inconcebível" recusa de Itália em autorizar o desembarque.
No entanto, a "Open Arms" declinou a oferta, tendo uma porta-voz explicado ser impossível viajar até Algeciras dada a "situação insustentável" a bordo.
"Há ansiedade, episódios de violência, o controlo da situação é cada vez mais difícil. Iniciar uma viagem de seis dias com estas pessoas a bordo, que estão no limite das suas possibilidades, seria uma loucura. Não podemos pôr a saúde e a vida delas em risco", disse.
Horas antes, a organização colocou um vídeo na rede social Twitter mostrando que alguns dos migrantes se lançaram ao mar, para tentar chegar a Lampedusa a nado, sendo salvos por socorristas.
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Embora o navio esteja a menos de um quilómetro da ilha de Lampedusa, onde a ONG pede para atracar, a Itália continua a recusar autorização para desembarque.
"Depois de analisar diferentes opções, o Governo de Espanha, de acordo com as recomendações logísticas da Marinha, considera que esta é a [solução] mais apropriada e que permitirá que a emergência humanitária a bordo do 'Open Arms' se resolva esta semana", explica a embaixada na nota divulgada esta terça-feira.
O "Audaz" navegará durante três dias até Lampedusa, onde "vai cuidar das pessoas a bordo do 'Open Arms' e acompanhar o barco da ONG Proactiva Open Arms até ao porto de Palma, em Maiorca", adianta.
Seis países disponíveis para receber os migrantes
Cerca de 120 ativistas da Amnistia Internacional exigiram esta terça-feira um "porto seguro" para os cerca de 100 migrantes que estão há 19 dias dentro do navio humanitário "Open Arms", frente à ilha italiana de Lampedusa.
Também a Agência de Refugiados da ONU pediu que seja encontrada uma solução para as pessoas que estão há 19 dias sem permissão para desembarcar. "A questão é muito simples, têm de poder desembarcar em terra", defendeu um porta-voz da agência da ONU, lembrando que seis países da União Europeia já se ofereceram para receber os cerca de 100 migrantes, assim que estes deixarem o navio.
Por seu lado, a Comissão Europeia insistiu que o desembarque e cuidado dos migrantes a bordo do "Open Arms" devem ser "prioridade para os Estados e ONG" da União Europeia.
A porta-voz da Comissão, Natasha Bertaud, insistiu que Bruxelas está pronta para coordenar o processo de realocação de migrantes nos países que se ofereceram para os receber: Portugal, Espanha, Alemanha, França, Luxemburgo e Roménia.