"Soldados do exército chinês entraram em vários edifícios universitários de Pequim e dispararam contra os estudantes", relatava o JN, na edição do dia 5 de junho de 1989.
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"Milhares de estudantes mortos na rua", noticiava o JN na primeira página da edição diária, no dia a seguir ao episódio que ficou mundialmente conhecido como o Massacre de Tiananmen. A 5 de junho de 1989, o jornal dava conta de que a praça de Pequim tinha ficado "coberta de sangue" - consequência do fuzilamento e atropelamento dos manifestantes.
"Soldados do exército chinês entraram em vários edifícios universitários de Pequim e dispararam contra os estudantes", relatava o JN, que apesar de dar conta da existência de mais de 2300 mortos, não divulgava um balanço exato, uma vez que, mais de 33 anos após o episódio hediondo, ainda não se sabe quantas pessoas morreram às mãos dos carrascos de Deng Xiaoping.
"Estudantes resistem e incendeiam viaturas militares", retratava o jornal, porém, a perseverança esmoreceu, silenciada pelo terror. Semanas mais tarde, as autoridades chinesas divulgaram que três mil civis ficaram feridos e que mais de 200, incluindo 36 estudantes, tinham morrido. As organizações de Direitos Humanos, porém, sempre defenderam que os números apresentados pelo regime são muito inferiores aos reais.
A situação começou a escalar na China no início de 1989, altura em que os estudantes universitários da capital começaram a exigir reformas governamentais. As revindicações captaram um apoio crescente, dando início a um movimento que se estendeu em diferentes cidades.
Nos primeiros meses, as autoridades não conseguiram deter os protestos e as tensões foram aumentando, até que, a 20 de maio, o Governo impôs a lei marcial. Não tardou a chegada do dia fatal. Na noite de 3 de junho, tropas armadas e centenas de tanques de guerra mobilizaram-se para Pequim, com o objetivo de aniquilar os manifestantes pró-democracia, o que resultou na morte de muitos civis, incluindo crianças.
"A população mostra se chocada com a violência dos soldados governamentais", descrevia o JN, acrescentando que, contrariamente, "a Imprensa oficial chinesa descreveu a repressão pelo Exército como uma gloriosa vitória".
Poucos dias após a repressão, iniciou-se uma busca por todos os que marcaram presença nas manifestações. Quem chegou a ser detido terá sido torturado ou levado para os chamados campos de reeducação. Nos dias que correm, ainda há pessoas que são presas por tentarem assinalar o acontecimento ou questionarem o paradeiro ainda desconhecido dos manifestantes. Ao fim de mais de três décadas, nada mudou na China.