O Serviço de Emergências de Madrid, o Suma 112, está a ser julgado em tribunal, acusado de negligência na morte de um jovem, em janeiro de 2018.
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Aitor, de 18 anos, morreu num hospital de Madrid, a 14 de janeiro de 2018, vítima de uma embolia pulmonar, quatro dias depois de uma chamada telefónica da mãe a pedir ajuda. O médico de serviço no 112 da capital espanhola não acreditou nas palavras da progenitora, pediu para falar com o jovem e não enviou uma ambulância com suporte de vida.
"Senhora, passe-me o telefone ao seu filho", disse o médico do 112 que atendeu a chamada de desesperada da mãe de Aitor, em janeiro de 2018. "Mas o meu filho não consegue respirar", resistiu Carmen Ruiz. O clínico insistiu e a mulher passou ao telefone ao filho, em agonia.
Aitor já não conseguia falar, apenas balbuciava. "Afogo-me... não posso", ouve-se no áudio obtido pelo jornal "El Mundo" e publicado online. "Não me parece que te afogues. Estás nervoso ou algo?". Aitor disse que não e clínico pediu ao jovem para passar o telefone de volta para a mãe.
"Senhora, o seu filho não tem nada. Respira perfeitamente", diz o médico à mulher, desligando o telefone. "Não entendi nada. O meu filho estava a ficar azul e o médico responde assim", disse Carmen Ruiz. "Ainda por cima obrigou-me a passar o telefone ao meu pobre filho, que gastou o pouco ar que lhe restava a dizer que se estava a afogar", recorda a mãe de Aitor.
"Quando o meu filho me passou o telefone de volta perdeu a consciência definitivamente. Não voltou a abrir os olhos", contou Carmen Ruiz. Aitor entrou em paragem cardiorrespiratória e estava já em morte cerebral quando uma ambulância chegou à residência dos Ruiz, em Navalcarnero, Madrid.
Quando chegou a ambulância com suporte imediato de vida (UVI, na sigla em espanhol), era tarde. "O médico disse-nos que passou demasiado tempo sem oxigénio no cérebro", conta Carmen. Descobriu-se, depois, que tinha um trombo num pulmão, que provocou uma embolia. Mas os pais dizem que o jovem morreu por causa dos 23 minutos que esteve em morte cerebral.
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Esta versão está confirmada nos dados da Comunidade de Madrid, a quem pertence o Suma 112. Aitor passou 23 minutos sem irrigação cerebral até que chegou a UVI, que o primeiro médico do 112 não ativou.
"Não podemos ter a certeza de que o meu filho poderia ter sobrevivido, mas é certo que perdeu a oportunidade de viver", disse Bartoloméu Ruiz, o pai de Aitor. O casal Ruiz reclama 175 mil euros de indemnização à Comunidade de Madrid, que assegurou, ao "El Mundo" que todo o processo decorreu normalmente.
"A Comunidade de Madrid não só recusa assumir as responsabilidades, como nem sequer identifica os médicos que participaram na peripécia", argumentou Carlos Sardinero, advogado da Associação da Defesa dos Pacientes, e que representa os pais de Aitor.
"Era o meu único filho. Um miúdo estupendo: carinhoso, trabalhador, muito bom, que jamais arranjou um problema", desabafou Carmen. "Não nos move o dinheiro. Queremos que mudem os protocolos, para que algo assim não se repita, porque nada nos devolve o nosso filho".