O desfile militar que decorreu esta quarta-feira em Pequim, com Putin na assistência, pretende mostrar o poderio militar chinês, que inclui mísseis, caças modernos e outro equipamento de última geração, parte do qual é apresentado ao público pela primeira vez, numa altura em que a China ambiciona exercer maior influência no palco internacional.
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Internamente, a comemoração visa também demonstrar o percurso de desenvolvimento do país desde a Segunda Guerra Mundial. A China foi um dos principais palcos da guerra, apesar de muitas vezes relegada para segundo plano pelas narrativas centradas na frente europeia ou nos combates navais dos Estados Unidos no Pacífico. A invasão japonesa e os anos de guerra provocaram milhões de mortos entre a população chinesa.
O desfile desta quarta-feira funciona igualmente como uma demonstração de força para reforçar o apoio ao Partido Comunista e ao seu líder, Xi Jinping, e como afirmação da China enquanto alternativa à ordem global estabelecida após a guerra, sob liderança dos Estados Unidos. A cerimónia contou com a presença de cerca de duas dezenas de líderes estrangeiros, oriundos de países que procuram estreitar ou manter boas relações com Pequim, com Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte.
A China exibiu várias armas para demonstrar poderio militar, incluindo drones equipados com inteligência artificial, drones de ataque furtivo, capazes de voar ao lado de um caça a jato tripulado e auxiliá-lo no ataque, ou até "lobos robóticos", que, segundo a BBC, podem ser usados para vário fins, desde reconhecimento de minas até caça a soldados inimigos.
O drone CS-5000T faz parte da frota chinesa de veículos aéreos não tripulados de combate
Foto: Pedro Pardo / AFP
Drone submarino gigante AJX-002, que pode chegar aos 20 metros de comprimento
Foto: Greg Baker / AFP
Os "lobos robóticos" podem ser equipados para desempenhar diferentes funções ao lado dos soldados
Fotos: Direitos reservados e Wu Hao / AFP
Durante a parada militar também foram vistos veículos blindados a transportar o novo míssil balístico intercontinental (ICBM) DF-61 ou míssil de cruzeiro antinavio supersónico YJ-15.
O novo míssil intercontinental da China capaz de transportar ogivas nucleares
Foto: Andres Martinez Casares / EPA
O míssil de cruzeiro antinavio supersónico YJ-15
Foto: Andres Martinez Casares / EPA
Outra das armas que chamou à atenção no desfile foi o chamado míssil Dongfeng (DF)-26D, de alcance intermédio, conhecido como "Assassino de Guam". Em teoria, seria capaz de destruir um grupo de ataque aéreo - ou bases americanas - no Pacífico. A sua alcunha faz referência ao território norte-americano de Guam, que alberga bases militares importantes e serviria como plataforma de lançamento para as operações militares dos EUA no Pacífico em caso de conflito com a China.
O DF-26D é considerado suficientemente ágil para escapar aos sistemas antimísseis Thaad e Patriot dos EUA, segundo declarações de especialistas à BBC.
O míssil Dongfeng (DF)-26D
Foto: Greg Baker / AFP
China também mostrou o DF-5C, um novo míssil balístico intercontinental
Foto: Wu Hao / EPA
O exército também exibiu duas versões de armas laser: uma em grande escala projetada para defesa aérea naval e outra mais pequena para proteger as tropas em terra.
Os lasers fazem parte de uma classe chamada "armas de energia direcionada", que em vez de usarem projéteis para uma destruição cinética, dependem de energia eletromagnética para incapacitar um alvo através de calor, interrupção de sistemas elétricos internos ou bloqueio de sensores.
São armas mais económicas, com um disparo de laser a custar apenas uma fração do preço de uma bala ou míssil. A logística também é mais fácil, uma vez que os projéteis de metal não precisam de viajar com a arma, apenas a sua fonte de energia, aponta a CNN.
Armas laser exibidas no desfile
Fotos: Greg Baker e Pedro Pardo / AFP
De acordo com a imprensa chinesa, o míssil balístico hipersónico antinavio YJ-20 também se estreou no desfile. Este míssil pode realizar um ataque preciso contra grandes navios de combate de superfície, combinando a velocidade de um míssil balístico com a manobrabilidade aerodinâmica de um míssil de cruzeiro. Pensa-se que seja um novo tipo de "destruidor de porta-aviões", concebido para atacar alvos navais e terrestres.
O míssil "destruidor de porta-aviões"
Foto: Greg Baker / AFP
Para além das armas terrestres, também se destaca o novo H-6J, uma variante moderna do bombardeiro de longo alcance H-6, modificado a partir da variante H-6K para ser usado pela Força Aérea Naval do Exército Popular de Libertação e projetado para substituir o modelo mais antigo.
O H-6J apresenta uma nova estrutura com motores e aviónicos atualizados e está armado com mísseis de cruzeiro antinavio supersónicos YJ-12.
Bombardeiros chineses Xi'an H-6 a voar em formação
Fotos: Hector Retamal / AFP
Também fez parte do desfile uma versão moderna do J-20 de dois lugares, que pode ser usado para controlar drones de combate.
Aeronave Chengdu J-20
Foto: Hector Retamal / AFP