A Rússia acusou, esta quinta-feira, o Exército ucraniano de estar a preparar ataques contra o território russo com os novos sistemas de mísseis que os Estados Unidos estão a fornecer à Ucrânia.
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"Estão a planear ataques contra o território fronteiriço da Federação Russa", referiu Mikhail Mizintsev, diretor do Centro nacional russo de gestão da defesa, em comunicado.
O general russo salientou que os ataques serão realizados a partir da cidade de Shostka, na região norte de Sumy, onde as armas norte-americanas chegarão "em breve".
A Ucrânia "espera provocar as Forças Armadas russas a contra-atacar e depois acusá-las de ataques indiscriminados a alvos de infraestrutura civil e para a eliminação da população civil ucraniana", acrescentou.
Mikhail Mizintsev assegurou ainda que a informação é "confiável" e foi obtida através da interceção de comunicações de rádio "do inimigo".
Os EUA anunciaram, na terça-feira, o fornecimento à Ucrânia de sistemas de lançamento de foguetes ("rockets") montados em veículos blindados ligeiros, conhecidos pela sigla HIMARS, de "High Mobility Artillery Rocket System".
Estes sistemas têm um alcance de cerca de 80 quilómetros e representam um reforço significativo das capacidades das forças ucranianas, que têm recebido sistemas com um alcance de 40 quilómetros.
O equipamento faz parte de um novo pacote mais amplo de assistência militar dos EUA à Ucrânia no valor total de 700 milhões de dólares (653 milhões de euros, ao câmbio atual), cujos pormenores deverão ser anunciados esta quinta-feira.
O Kremlin já tinha reagido à nova ajuda militar, dizendo que Washington está a "deitar achas para a fogueira", e que esse gesto norte-americano "não ajuda a relançar as negociações de paz" com Kiev.
Em Riade, Arábia Saudita, numa entrevista coletiva transmitida pela televisão pública russa, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse também hoje que os pedidos de armas da Ucrânia são uma provocação para envolver o Ocidente em ações militares que ocorrem naquele país.
No entanto, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, assegurou hoje que a Ucrânia deu "garantias" ao seu país de que não usará novos sistemas de mísseis prometidos por Washington para atingir alvos em território russo.
"É a Rússia que ataca a Ucrânia. Não o contrário. Para ser claro, a melhor maneira de evitar uma escalada é a Rússia acabar com a agressão e a guerra", disse Blinken, durante uma conferência de imprensa, em resposta às críticas de Moscovo.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas - mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,8 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 4.149 civis morreram e 4.945 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 98.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.