O prémio Nobel da Paz e arcebispo emérito da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, declarou, esta quinta-feira, ser contra uma possível "intervenção militar" na Síria pelos Estados Unidos e os seus aliados.
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"As crises na Síria e no Egito requerem uma intervenção humanitária, não uma intervenção militar", disse Desmond Tutu num comunicado.
"Apesar de todos os novos avanços tecnológicos e científicos e toda a nossa inteligência, os seres humanos ainda têm que desenvolver os meios para resolver este tipo de crise sem recorrer à violência", declarou o ativista pelos direitos humanos.
Para Tutu, de 82 anos, a situação na Síria "lembra os dias que precederam a invasão do Iraque em 2003".
"Os inspetores da ONU para as armas químicas estão no terreno, mas precisam de mais tempos para acabar o seu trabalho. Os Estados Unidos e os seus aliados devem recordar que a lei internacional determina que é necessário a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas para um ataque militar", assinalou o arcebispo emérito.
"Precisamos dialogar e evitar a matança, não lutar. Precisamos falar sobre as coisas incómodas, como as relações entre os assim chamados países ocidentais e o mundo islâmico, e entre Israel e a Palestina", acrescentou o líder anglicano, que qualificou o conflito israelo-palestiniano como uma "ferida" que já causou demasiada dor.
"Precisamos falar do porque é que algumas pessoas recorrem ao terrorismo. Devemos desenvolver a nossa compreensão sobre o outro e não a nossa habilidade para ferir o outro", disse Tutu, que já se havia posicionado contra a guerra no Iraque em 2003.
Desmond Tutu admitiu que a intervenção poderia "estabelecer as bases de uma vida melhor" para os sírios, mas adverte que o ataque poderia também "precipitar uma escalada geral nas tensões e na violência no Oriente Médio".
"Não contribuiria para a melhor sustentabilidade das relações e a segurança no mundo. Não vale a pena o risco [da intervenção]", concluiu o arcebispo emérito.
As ameaças contra a Síria, por parte dos Estados Unidos, Reino Unido e França, aconteceram depois de ter sido denunciado, na passada quarta-feira, o alegado uso de armas químicas pelo regime do Presidente Bashar al-Assad sobre a população civil síria, na periferia de Damasco.
O bombardeamento terá feito mais de 300 vítimas segundo organizações não-governamentais, enquanto a oposição fala em 1.300 mortos.
Desde o início da guerra civil na Síria, em março de 2011, já morreram mais de 100 mil pessoas e quase sete milhões necessitam urgentemente de ajuda humanitária, segundo os últimos números das Nações Unidas.