Várias organizações não-governamentais (ONG) anunciaram esta terça-feira a suspensão das respetivas missões de apoio aos refugiados na ilha grega de Lesbos perante o aumento de ameaças e de ataques conduzidos, segundo as mesmas organizações, por "grupos fascistas".
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"A maioria das organizações decidiram suspender as suas operações, algumas por tempo indeterminado. Várias ONG pediram às respetivas equipas para deixarem a ilha" de Lesbos (localizada no mar Egeu e próxima da Turquia), afirmou Douglas Herman, co-fundador da Refocus, organização que fornece apoio na área da educação aos migrantes e refugiados.
Segundo Douglas Herman, seis membros da equipa da Refocus estão de saída de Lesbos, onde várias dezenas de migrantes, chegados em massa durante os últimos dias, encontram-se a pernoitar ao relento no porto de Mytilene.
Próxima das costas turcas, a ilha de Lesbos tem vindo a registar nos últimos dias um aumento significativo das chegadas desde que a Turquia decidiu 'abrir as portas' aos migrantes e refugiados que pretendem rumar à Europa no final da semana passada.
Cerca de 1720 migrantes alcançaram as ilhas gregas no Mar Egeu nos últimos quatro dias, segundo fontes do Governo grego, indicando que estas pessoas se juntam às outras 38 mil que já estão nos territórios insulares gregos.
Esta nova vaga veio aumentar o clima de tensão que marcava o quotidiano em Lesbos, onde a situação migratória já tinha atingido um ponto de rutura: mais de 19 mil pessoas vivem atualmente em condições muito precárias num campo de processamento e de acolhimento (conhecidos como 'hotspots') naquela ilha, em instalações com uma capacidade máxima para pouco menos de 3000 pessoas.
Os habitantes de Lesbos têm vindo a manifestar frequentemente o seu descontentamento, alegando que a ilha está a suportar um fardo de um sistema migratório e de asilo europeu que classificam como "defeituoso".
Agora, e perante esta nova vaga de migrantes e de refugiados, os ilhéus estão novamente a exigir o descongestionamento da ilha e, em certos casos, a contestação está a ganhar contornos violentos e a atingir os trabalhadores das ONG que prestam assistência aos refugiados.
"Quando a noite cai, há ataques constantes a membros de ONG, pessoas que vêm para aqui como voluntários", relatou Douglas Herman.
Esta violência, segundo denunciou o representante da Refocus, é resultado de mobilizações "fascistas".
Douglas Herman descreveu, por exemplo, que carros das ONG, e os respetivos motoristas, são ameaçados nas estradas por grupos de pessoas munidas com correntes e pedaços de vidro partidos.
Segundo a agência France Presse (AFP), vários membros da ONG holandesa Boat Refugee Foundation, que fornece cuidados médicos no campo de Moria em Lesbos (considerado um dos piores campos de refugiados no mundo), foram "atacados" por ilhéus no domingo.
"Os carros foram atingidos por barras de ferro", disse um porta-voz da ONG holandesa à AFP, denunciando que os agressores pertenciam "a um grupo de extrema-direita que quer impedir que as ONG façam o seu trabalho em Lesbos e travar a chegada de outros refugiados".
De acordo com uma fonte policial citada pela AFP, a polícia local abriu uma investigação após "vários relatos de ataques contra indivíduos e carros" na ilha de Lesbos.
Após uma reunião governamental de emergência, a Grécia encontra-se, desde domingo, num estado de alerta "máximo" para proteger as suas fronteiras, que têm testemunhado nos últimos dias um aumento bastante expressivo do fluxo migratório, depois da Turquia ter anunciado, na sexta-feira, que deixaria de impedir os migrantes e refugiados que tentassem alcançar a Europa através das fronteiras do país.
No domingo, as autoridades gregas decidiram reforçar o patrulhamento das fronteiras marítimas e terrestres no nordeste do país, bem como avançaram que os processos de receção de novos pedidos de asilo seriam suspensos durante um mês.
A Comissão Europeia anunciou hoje uma ajuda financeira de 700 milhões de euros à Grécia para responder à pressão migratória no país, sobretudo de migrantes vindos da Turquia, mobilizando ainda assistência médica através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.
A presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, esteve hoje na Grécia juntamente com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e do Parlamento Europeu, David Sassoli, para demonstrar o apoio da UE às autoridades gregas na resposta à pressão migratória.