É a primeira vez em 36 anos que as Nações Unidas aprovam uma resolução contra Israel. E aconteceu apesar de o presidente eleito Donald Trump ter conseguido fazer adiar a votação ... por um dia.
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Pela primeira vez em 36 anos, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução condenando a construção de colonatos israelitas em território palestiniano. E isto apesar de todas as pressões diplomáticas para tentar evitar a abstenção dos Estados Unidos. Para lá de histórica, a discussão foi inédita por ter levado o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, a interferir num assunto de diplomacia um mês antes de tomar posse.
A votação da resolução estava prevista para quinta-feira. E foi a intervenção de Trump que a suspendeu. O texto fora apresentado pelo Egito, que acabou por pedir o reagendamento da discussão - sem data - para mais amplas negociações diplomáticas. Mas quatro estados-membros - Venezuela, Nova Zelândia, Malásia e Senegal - instaram o Cairo a clarificar se iria retirar a proposta e, após resposta afirmativa, avançaram eles mesmos esta sexta-feira com o texto, que precisava de nove votos favoráveis e nenhum veto dos membros permanentes (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido).
O texto estabelece que os colonatos são ilegais e "constituem uma violação flagrante da lei internacional e um obstáculo para uma solução de dois Estados e uma paz firme, duradoira e completa".
O assunto já fora alvo de uma discussão na ONU, em 2011. Mas está aí a primeira diferença: em 2011, os EUA vetaram a proposta, enquanto, desta vez, previa-se que a administração do ainda Presidente Barack Obama desse instruções de abstenção. Como acabou por acontecer.
Perante o silêncio de Washington face a pressões diplomáticas, o primeiro-ministro israelita, benjamin Netanyahu optou por contactar a equipa do próximo inquilino da Casa branca. E, numa atitude inédita, um presidente eleito ousou, a um mês da tomada de posse, apelar ao veto norte-americano.
"A paz entre israelitas e palestinianos deve depender de negociações diretas entre as partes e não de condições impostas pelas Nações Unidas", escreveu Trump em comunicado. Aprovar a resolução "coloca Israel numa posição negocial muito fraca e é extremamente injusto para os todos os israelitas".
Mas Donald Trump não se ficou por aí. Telefonou diretamente ao Presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. E o Egito recuou em Nova Iorque. Ontem, a presidência egípcia explicava, em comunicado oficial, que "os dois líderes coincidiram na importância de dar à nova administração a oportunidade de tratar de forma exaustiva todos os aspetos da causa palestiniana para chegar a um acordo integral".
Do seu lado, altos representantes israelitas citados na Reuters acusavam a administração Obama de impulsionar um texto "vergonhoso", de "abandonar" o país e de ter "cozinhado secretamente com os palestinianos, nas costas de Israel, uma resolução anti-israelita extrema que será um vento a favor do terror e de boicotes". Uma atitude que "rompe com décadas da política norte-americana de proteção de Israel na ONU e mina as perspetivas de um trabalho conjunto com a próxima administração no sentido da paz".
Já o jornal "The Jerusalem Post" cita fontes da Casa branca rejeitando as acusações e clarificando que os EUA não participaram na formulação da resolução, nem deram nunca conta da intenção de voto. "Sejamos claros: desde o início que esta foi uma resolução egípcia".
Do seu lado, o "El Pais" recorda que al-Sisi já deu conta ao mundo da admiração por Trump e do desejo de reforço de laços com uma potência que lhe concede uma ajuda militar de 1300 milhões de dólares anuais.
Estima-se que vivam 600 mil colonos israelitas na parte ocidental de Jerusalém e nos mais de 200 colonatos na Cisjordânia.