ONU pede investigação à violência policial nos Camarões após declarações de independência
O secretário-geral da ONU pediu uma investigação aos "atos de violência" que levaram à "perda de vidas" este domingo, no sudoeste e noroeste dos Camarões, após declarações unilaterais de independência.
Corpo do artigo
Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, condenou firmemente a violência aplicada pelas autoridades dos Camarões contra os independentistas e afirmou, em comunicado, que o secretário-geral da ONU "continua profundamente preocupado com a situação" no país.
No dia 1, os separatistas que defendem a independência da República da Ambazónia, um estado não reconhecido que junta duas províncias anglófonas dos Camarões, a noroeste e sudoeste do país, saíram à rua em defesa da independência das duas regiões face à nação francófona. Acabaram violentamente reprimidos pelas forças policiais nacionais. Segundo a Amnistia Internacional e fontes oficiais, 17 pessoas foram mortas.
António Guterres exortou "os dirigentes políticos dos dois lados a apelarem aos seus apoiantes para se absterem de qualquer novo ato de violência e a condenarem sem equívocos qualquer ação que possa prejudicar a paz, a estabilidade e a unidade do país", adiantou Dujarric.
Também Paul Biya, o presidente dos Camarões, atualmente de férias em Genebra, apelou à paz e ao diálogo entre as fações e condenou todos os atos de violência "de ambos os lados, independentemente de quem é o perpetrador".
Desde novembro de 2016 que a minoria anglófona, que representa 20% dos 22 milhões de camaroneses, protesta contra a marginalização na sociedade, sobretudo ao nível do ensino e da justiça, pedindo que o direito comum seja respeitado nas duas regiões e que nas escolas e nos tribunais se fale inglês.
A crise agravou-se com um corte de internet durante três meses no início de 2017, que apenas afetou as regiões anglófonas. Foi exacerbada também pela aproximação das celebrações da data simbólica do nascimento da República Federal dos Camarões, a 1 de outubro de 1961.
Parte dos anglófonos mais extremos exigem o regresso ao federalismo - implementado entre 1961 e 1972, com dois Estados integrando a mesma república -, enquanto uma minoria reclama a divisão dos Camarões, dois cenários rejeitados pelo Governo.
Após a formação de um governo, o anúncio da criação de um grupo armado e o lançamento de uma televisão, os independentistas anglófonos propuseram nas redes sociais um hino nacional da Ambazónia. Em resposta, Yaounde tomou medidas fortes e instaurou o recolher obrigatório nas duas regiões de língua inglesa, proibindo as reuniões de mais de quatro pessoas e a deslocação entre localidades. Os acessos à internet foram de novo limitados na passada sexta-feira.