Com os ânimos a serenarem em França após o terror de sexta-feira à noite, começaram a surgir as histórias de quem sobreviveu aos ataques terroristas.
Corpo do artigo
Benjamin e Celia, 43 anos
Este casal tinha chegado às 20.30 horas ao Bataclan para assistir ao concerto dos Eagle of Death Metal. Quando a banda tocava "Kiss the Devil" (Beija o diabo), começou o terror com um estrondo forte. Só alguns momentos depois, este casal se apercebeu que o que ouvia não fazia parte do concerto. Eram a balas a sair das "kalashnikov".
"Um corpo caiu sobre mim e deixou escorrer o sangue sobre as minhas pernas. O homem ao meu lado tinha cerca de 50 anos e foi alvejado na cara, na cabeça. Bocados de cérebro e carne ficaram nos meus óculos", recordou Benjamin ao jornal francês "Le Figaro", confessando que sentia a que sua hora "estava a chegar".
Celia, por seu turno, afirma que viu claramente os terroristas. "Julgo que eram quatro. As caras não estavam tapadas. Eram todos muito novos, na casa dos 20 anos. Não eram especialmente bonitos, mas nenhum tinha uma cara demoníaca. Usavam túnicas, uma bege e duas pretas. Falavam francês sem sotaque", recordou. "O meu telemóvel estava com a luz acesa porque ia filmar o concerto, mas não o tinha à vista. Ainda bem, porque eles estavam a matar que mexia nos telemóveis".
Isobel Bowdery, 22 anos
Isobel Bowdery relatou no Facebook os momentos por que passou no interior do Bataclan, em Paris. "Nunca pensas que te vai acontecer a ti. Era só uma sexta-feira à noite num concerto de rock", começa por dizer a sul-africana. Mas tudo mudou quando os terroristas entraram a matar pessoas no recinto. Primeiro, Isobel julgou que se tratava de algo preparado pela banda "Eagles of Death Metal", mas pouco tardou a perceber que algo mais grave se passava.
"Dezenas de pessoas foram mortas em frente a mim. Uma piscina de sangue encheu o chão. Gritos de homens crescidos que seguravam os corpos mortos das namoradas enchiam o pequeno recinto", relata no Facebook, onde mostrou também a camisola ensanguentada que vestia.
O relato continua com pormenores dolorosos das execuções a sangue frio levadas a cabo no interior do Bataclan, onde tudo o que queria era assistir a um concerto numa sexta-feira à noite como outra qualquer.
Isobel passou uma hora no chão a fingir-se de morta e ouviu tudo o que se passou à sua volta, desde os tiros até às últimas palavras de amor de um casal ao seu lado. Para ela, tudo acabou com a chegada da polícia, não antes de ter sido ajudada por um outro homem que a protegeu com o corpo. Depois, o horror durante 45 minutos, até perceber que namorado também tinha sobrevivido ao ataque.
Philippe, 35 anos
"Eles dispararam contra a multidão e as pessoas tentaram escapar, mas os terroristas avisaram: "se se mexem, vamos matar-vos", revelou Philippe, de 35 anos,que também estava no Bataclan.
Safer, empregado do Le Carillon
Safer é um dos heróis da noite de terror em Paris. Apesar do restaurante Le Carillon, onde trabalha, estar sob ataque, este muçulmano francês conseguiu arrastar duas mulheres feridas para o sótão do local, quando ainda se disparavam tiros contra quem lá se encontrava.
Iván Garcia, 39 anos
Iván Garcia, um espanhol de 39 anos, estava no Bataclan com mais dois amigos e contou ao "El Mundo" que conseguiu esconder-se numa sala pequena do recinto, até ser retirado pelas forças especiais da polícia francesa.
"O ruído era insuportável. Conseguimos esconder-nos num quarto que encontramos e fechamos a porta, enquanto todos tentavam escapar. Quando a abriram, era a polícia", contou o espanhol.
Conseguiu sair apenas com ferimentos ligeiros numa perna.
Grégoire Philonenko, 55 anos
O homem de 55 anos e o seu filho estavam no Bataclan e ambos escaparam aos tiros graças a uma prótese na perna do pai. Grégorie Philonenko estava deitado no chão, juntamente com o filho e outro homem, quando um dos terroristas o pontapeou para confirmar se tinha vida. Graças à prótese que tem na perna, Philonenko não reagiu, mas o homem ao seu lado acabou por ser morto.
Bley Bilal Mokono, 40 anos
A sofrer de perda auditiva e com ferimentos no ombro, Bley Bilal Mokono - militante do partido socialista francês - e o filho são dois dos sobreviventes dos ataques terroristas de sexta-feira. Mokono estava com o filho, de 13 anos, a comprar uma sandes perto do Estádio de França e garante que se cruzou com dois dos terroristas antes de estes acionarem os coletes suicidas.