Escândalos nos tribunais e os maus resultados nas eleições da Catalunha obrigam dirigentes a mudar de estratégia para tentar travar a ascensão da extrema-direita.
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O Partido Popular (PP) espanhol encontra-se numa encruzilhada política, da qual tem de sair rapidamente para não pôr em risco a sua hegemonia na direita. Ameaçado constantemente pelos escândalos de corrupção, o péssimo resultado das eleições na Catalunha no passado dia 14 confirmou uma queda histórica dos populares, que necessitam agora de encontrar uma fórmula para abrandar uma descida de notoriedade que é cada vez mais evidente.
Aproveitando as turbulências atuais do projeto pilotado por Pablo Casado, o Vox (extrema-direita) conseguiu atrair o eleitorado cansado da oposição moderada do PP, através de um discurso radical contra o independentismo e a imigração ilegal.
Os populares decidiram participar num combate corpo a corpo contra o Vox para saber quem ia liderar a direita e não podiam ter obtido pior resultado: o candidato do PP, Alejandro Fernández, só conseguiu três assentos, contra 11 do partido de extrema-direita, que entrou pela primeira vez no Parlamento da Catalunha.
O terramoto da derrota fez-se sentir em Madrid, onde o secretário-geral dos populares, Teodoro García Egea, teve de dar a cara para não desgastar ainda mais a imagem de Pablo Casado. Sem fazer autocrítica, o número dois do PP apontou a Justiça como principal culpado do fiasco nas urnas.
Corrupção e fraude
Em plena campanha eleitoral, o antigo tesoureiro dos populares, Luís Bárcenas - condenado a 33 anos de prisão pela sua participação no "dossiê Gürtel", o maior caso de corrupção da democracia espanhola, cuja sentença acabou com o Governo de Mariano Rajoy, em 2018 - decidiu romper o silêncio e enviou um relatório à agência anticorrupção. Aí, confessava vários factos sobre financiamento ilegal que incriminam ex-dirigentes do PP.
Bárcenas é o principal acusado no julgamento sobre financiamento ilegal no PP que começou há duas semanas e que está baseado nas obras de renovação da sede central do partido na rua madrilena de Génova. As obras custaram mais de 900 mil euros e foram pagas com dinheiro "opaco", procedente do "saco azul" do partido.
Também está em causa uma suposta fraude fiscal dos populares, por não terem declarado ao Fisco doações recebidas em 2008.
Numa última tentativa para deixar para trás este passado tão negro do PP, Pablo Casado anunciou que o partido vai abandonar a sua sede central. "Não podemos continuar num edifício cuja reforma está a ser investigada nos tribunais", disse.
Sobram muitas dúvidas
Porém, esta mudança, que eclipsou o ambiente de derrota, não foi suficiente para os barões do partido, que puseram em causa a liderança de Casado pela sua incapacidade em fazer abrandar a ascensão da extrema-direita nos últimos meses.
A ala do partido mais à direita continua sem perceber a viragem de Casado para o centro após ter-se afastado definitivamente do Vox na moção de censura contra o primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, apresentada em outubro.
Outra decisão que também não assentou bem foi a decisão do líder de despedir a antiga porta-voz do partido, Cayetana Álvarez de Toledo, que se tinha revelado uma arma eficaz contra o governo socialista.