Pelo menos 20 pessoas morreram e 11 ficaram feridas quando um grupo extremista lançou granadas contra uma multidão que participava num funeral em Bangui, capital da República Centro-Africana.
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Em declarações à rádio pública do país, Denis Wangao Kizimale disse que o ato ocorreu "por volta das 23 horas (de quinta-feira, era meia-noite de sexta-feira em Portugal continental), quando o grupo de extremista bem conhecido pela polícia" lançou os engenhos explosivos contra o cortejo, que incluía mulheres grávidas e crianças.
Em várias partes de África, é recorrentes as mulheres fazerem-se acompanhar de filhos menores em cerimónias fúnebres, mas estas presenças já são proibidas em comunidades que professam o islamismo.
Segundo Denis Wangao Kizimale, o Governo da República Centro-Africana "condena este ato odioso", pelo que foi aberta uma investigação para determinar as circunstâncias deste crime. "Os responsáveis serão encontrados e levados à justiça", assegurou o ministro da Segurança Pública da República Centro-Africana.
Esta sexta-feira, membros da comunidade local saíram à rua para protestar contra a chacina e acusaram a coligação Séléka, de maioria muçulmana, de ter protagonizado o ato.
Desde março de 2013, a República Centro Africana mergulhou no caos depois de a coligação Séléka, de maioria muçulmana, ter derrubou o Governo do país maioritariamente cristão presidido por François Bozizé, o que desencadeou uma espiral de violência sectária, com um balanço de milhares de mortos.
Falando aos jornalistas, o diretor de proteção internacional do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR),Volker Turk, alertou para o risco de a República Centro Africana pode tornar-se " uma nova Bósnia", em que comunidades inteiras são massacradas por outras confissões diferentes, face ao olhar impotente da comunidade internacional.
"O caso da República Centro Africana faz-me lembrar o livro "A Crónica de uma Morte Anunciada`, em que nós sabemos o que vai acontecer antes de acontecer", disse à imprensa Volker Turk, que regressou recentemente de Bangui, capital daquele país africano.
O funcionário da agência das Nações Unidas explicou que as comunidades islâmicas centro-africanas, por exemplo, são constantemente ameaçadas e, por isso, vivem numa espécie de reclusão para evitar ataques das milícias anti-balaka, maioritariamente cristãos.
Desde o último sábado, grupos de milícias anti-balaka e outros militantes vestidos com o uniforme do exército nacional mataram pelo menos oito moradores muçulmanos em Bangui.
"Os muçulmanos temem ser massacrados e prevalece o medo", disse Volker Turk, que descreveu a situação como sendo "absolutamente desesperante", pelo que a comunidade internacional deve "agir antes que a tragédia aconteça".