Pedro Coelho, ex-gestor da Jerónimo Martins condenado, diz que já cumpriu a pena, mas espera há dois meses pelos comprovativos.
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Pedro Coelho, cidadão português condenado na Colômbia e a quem foi diagnosticado um cancro em fase terminal, está desesperado para sair daquele país da América Latina - mas não consegue. O agora ex-diretor de operações da Jerónimo Martins na Colômbia e encarregado da abertura de novas lojas da marca Ara garante que a pena pelos crimes de corrupção de que foi acusado terminou a 28 de setembro e deveria ter-se seguido a sua expulsão. Mas está a ser "impedido" pelas autoridades colombianas, que tardam em passar os documentos que atestem o efetivo cumprimento e o deixem cruzar a fronteira.
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O desespero cresce a cada dia que passa. Em maio apercebeu-se de um sinal e, pouco depois, foi-lhe diagnosticado um melanoma maligno invasivo tipo IV. O cancro desenvolveu-se de forma "tão tenaz" que já "não se pode fazer nada em termos cirúrgicos". Os médicos que consultou informaram-no de que apenas sessões de imunoterapia lhe poderão prolongar a vida algum tempo - mas têm de começar o mais rápido possível. Se não, restam-lhe "só alguns meses de vida". Na Colômbia, diz não ter condições para se tratar.
Pedro Coelho revela que já pediu ao tribunal que considere a extinção da pena. Dada a ausência de resposta e a "urgência" pelo seu estado de saúde, apelou a dois tribunais superiores, a diversas autoridades dos dois países e também a organizações de Direitos Humanos. Mas continua sem solução para o problema.
O português, que está a residir sozinho na Colômbia, conta que se tem desdobrado em esforços para explicar a urgência do caso. No mês passado, revela, escreveu ao tribunal a "implorar" que tivessem consideração pelo seu estado de saúde. "Nem responderam", diz ao JN.
uma "sentença de morte"
"Preciso que sejam céleres, como não posso trabalhar por ter apenas visto judicial, não tenho acesso à segurança social e aos cuidados de saúde públicos. O que tenho feito é tudo pago por mim", conta, explicando que não consegue suportar os custos da imunoterapia - cada sessão custará "entre oito e 10 mil euros". Em Portugal, os custos caberiam ao Serviço Nacional de Saúde.
Assim, a demora é sentida como uma espécie de "segunda sentença, mas esta é uma sentença de morte", lamenta, considerando que a situação é "desumana". "Já cumpri a minha pena, porque não me mandam embora? Só falta uma assinatura num documento! A minha morte está dependente de uma assinatura", insiste. Se se dirigir à fronteira sem o tal documento judicial, afiança, será detido. E então, sim, não terá como sair da Colômbia. A ter de morrer, diz, "então que seja em Portugal".
Entretanto, Pedro Coelho pediu à sua embaixada que avalie com o Ministério da Saúde "a eventual ajuda para o tratamento a efetuar de imediato na Colômbia" e a ter continuidade depois em Portugal. A prima de Pedro Coelho, Ana Mafalda Silvestre, adiantou que toda a situação "tem sido muito difícil para a família em Portugal, sobretudo para o pai dele", que já teve diversas complicações de saúde.
O JN não obteve, em tempo útil, resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Julgamento
Condenado a 36 meses por corrupção
Pedro Coelho, diretor de operações da Jerónimo Martins na Colômbia, foi detido pelas autoridades em 2017, por suspeita de corrupção e coação para ato ilícito. Foi acusado de pedir dinheiro - montante entre 14 e 23 mil euros - a empresas responsáveis pela construção das novas lojas da cadeia de supermercados, que na Colômbia se chamam Ara. Deu-se como culpado e foi sentenciado a 36 meses (pena suspensa) e consequente expulsão do país após cumprimento da pena. A denúncia foi da Jerónimo Martins, que detetou irregularidades e entregou documentos à Polícia colombiana. Pedro Coelho trabalhava desde 1994 para o grupo, tendo passado por Portugal, Polónia e Brasil. Estava na Colômbia há um ano.
Tome nota
Visto expirado
Pedro Coelho diz que para se manter no país lhe foi atribuído um visto judicial, que terá expirado com o cumprimento da sentença.
Sem poder trabalhar
Devido ao visto judicial, não lhe é permitido trabalhar. Tem sobrevivido graças a poupanças e rendimentos próprios.
Fez vários apelos
O português diz já ter apelado a várias instâncias nos dois países, nomeadamente Ministério dos Negócios Estrangeiros, Presidência da República, Ministério da Justiça e Primeiro-ministro em Portugal, assim como Governo colombiano e Embaixada da Colômbia em Lisboa.