Após a execução que dividiu a América, Spencer Lawton veio a público esclarecer alguns contornos do caso que conduziu. Para o procurador do Ministério do Público da Geórgia, Troy Davis é o culpado pela morte de um polícia em 1989. O homem morreu a jurar que não era culpado.
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Troy Davis foi acusado pela morte do polícia Mark MacPhail, em 1989 e condenado, em 1991, à pena de morte. Depois de 20 anos no corredor da morte, foi executado, esta quarta-feira, às 4.08 horas em Portugal continental.
Os contornos deste caso suscitaram sempre dúvidas. Nunca foi encontrada a arma do crime, sete das nove testemunhas de acusação alteraram o seu testemunho e acabaram por considerar Davis inocente. O homem, de 42 anos, morreu a jurar que não foi o responsável pela morte de MacPhail.
Para o procurador da Geórgia, Spencer Lawton, que levou Troy Davis a julgamento e conseguiu a sua condenação, houve dois casos a ser disputados. "Há o caso legal, no tribunal, e há o caso de relações públicas. Ganhámos o caso no tribunal, mas perdemos pela forma como foi apresentado na esfera pública."
Lawton disse ainda que estava eticamente obrigado a não falar sobre o caso enquanto ele decorria e que esta obrigação, a que a a Acusação estava sujeita, foi aproveitada pela Defesa para para fazer campanha junto da opinião pública.
"Estivemos em desvantagem na campanha de relações públicas, porque estávamos eticamente obrigados ao manter no silêncio as nossas opiniões e julgamentos sobre os factos em tribunal", disse Lawton.
O procurador disse à CNN que não tem dúvidas sobre a culpa de Davis. Lawton acredita, ainda, que os simpatizantes de Davis foram mal informados sobre o caso. "Os documentos deste julgamento estão, desde o início, a ser "aproveitados" para colocar em dúvida as provas físicas".
Após a acusação de Davis, a Defesa interpôs um recurso ao Tribunal Federal, insistindo que "não há provas físicas" que ligam Davis ao assassinato de MacPhail, já que "a arma do crime nunca foi encontrada".
"Acreditamos que estabelecemos dúvidas substanciais neste caso", disse, na altura, o advogado de defesa Stephen Marsh. "E dado o nível de dúvida que existe, acreditamos que uma execução não é apropriado".
Quanto à alteração da versão dos factos de várias testemunhas, Lawton diz que elas não mereciam o crédito que lhes foi dado pela comunicação social. "O juiz decidiu que os testemunhos eram no mínimo "suspeitos" porque não foram feitos sob juramento e também porque o Ministérios Público nunca teve oportunidade de interrogar as testemunhas que mudram de ideias".
O procurador disse ainda que a morosidade do caso, que se arrastou durante 20 anos, "ajudou a uma especulação desenfreada para substituir os factos".
Spencer Lawton revelou que "não defende" a pena de morte. "Se ela terminasse amanhã, por mim tudo bem. É uma parte, um componente da lei da Geórgia, que eu jurei defender", disse o procurador.