O referendo para aprovar uma emenda da Constituição para permitir a reeleição presidencial ilimitada de Hugo Chávez está a decorrer com "tranquilidade e normalidade", revelou à Agência Lusa o eurodeputado social-democrata português Sérgio Marques.
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"Pelo que se pôde constatar, o acto eleitoral decorre com tranquilidade, com normalidade, com grande participação cívica. Acho que vamos ter um excelente nível de participação ao final do dia", disse à Agência Lusa.
Sérgio Marques integra uma missão de eurodeputados do Partido Popular Europeu que se encontram na Venezuela para observar o refendo, a convite dos partidos políticos opositores Primeiro Justiça e Copei.
"Agora o que se espera é que os resultados eleitorais possam ser conhecidos o mais rapidamente possível até porque é para isso que há este sistema electrónico de votação, que é suposto ser dos mais avançados do mundo, para que os resultados possam ser reconhecidos e ser evitadas quaisquer dúvidas sobre o sentido da decisão de todos os venezuelanos no dia de hoje", sublinhou.
Por outro lado, explicou que "há pequenas irregularidades que já nos foram comunicadas, que ocorrem, que não são de modo a manchar este escrutínio, até porque vão ser analisadas pela autoridades eleitorais e vão ficar registadas em acta, como tivemos oportunidade de constatar".
"Não são, contudo, de modo a invalidar o escrutínio", exclamou.
Segundo Sérgio Marques, "é fundamental que os resultados eleitorais, depois de serem rapidamente conhecidos, possam também ser aceites por ambas as partes e por isso é também importante que o resultado seja claro, num sentido ou noutro".
"Se os resultados forem claros isso favorecerá a aceitação dos resultados por todos os agentes envolvidos no referendo, sejam eles do bloco do não, sejam do bloco do sim", concluiu.
Participação significativa desde cedo
Milhares de venezuelanos, entre eles um número significativo de portugueses, têm afluído às urnas para votar.
Apesar de ser domingo, os habitantes de Caracas e outras localidades do país acordaram cedo, pelas 04:30 horas locais (09:00 horas em Lisboa).
Em Caracas, segundo a Agência Lusa presenciou, era significativa a presença de imigrantes portugueses em urbanizações como La Florida, Chacao e Guaicaipuro, com as pessoas a pretenderem exercer o seu direito de voto para regressar a casa e passar um "domingo em família".
Comparativamente com outros processos eleitorais, "o processo foi rápido", disse à Agência Lusa o engenheiro electrónico Ernesto das Sales, um emigrante de 63 anos, natural de Santa Cruz, Madeira, radicado na Venezuela desde 1957.
"Tudo decorreu muito bem, o processo foi muito fácil, rápido, talvez pela facilidade de se ter que responder a apenas uma pergunta", disse o emigrante que votou no Colégio Santo António de La Florida.
Natural do Caniço, Madeira, Maria Rodrigues, 65 anos e radicada há 38 anos na Venezuela, percorreu parte da cidade de Caracas, desde Petare (a leste de Caracas) até à urbanização de Las Palmas (nas proximidades do centro), para votar, uma atitude que, disse não teve sucesso.
"Enquanto uma rapariga me explicava como votar, a máquina imprimiu um boletim, o voto foi nulo, mas eu não pude votar. Disseram que tinha tocado a máquina (eleitoral) o que não é verdade, porque apenas toquei com um dedo na mesa", disse, manifestando-se desencantada.
Por outro lado, a luso-descendente Nataly Beja, 25 anos, denunciou à Agência Lusa e à RTP que o boletim imprimiu um voto com uma opção diferente daquela que tinha seleccionado.
"Apareceu um sim, quando eu votei pela opção não, queixei-me, foi feita uma acta que não está devidamente carimbada e tenho que aparecer ao final da tarde para comprovar o que vai acontecer", disse.
Filha de emigrantes naturais do Porto, Nataly Beja frisou ainda ter conhecimento de casos de pessoas que registaram a mesma anormalidade.