Uma investigação independente sobre o desaparecimento de 43 estudantes mexicanos concluiu este domingo que não poderão ter sido incinerados numa lixeira, refutando a tese oficial do Governo de Enrique Peña Nieto.
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Os investigadores da Comissão interamericana de direitos humanos (CIDH) referem nas cerca de 500 páginas do relatório que um perito em fogos não encontrou "provas que suportem" a versão do Governo.
O gabinete do procurador-geral concluiu no final de 2014 que a polícia municipal da cidade de Iguala (estado de Guerrero, sul do México) sequestrou 43 jovens estudantes e de seguida entregou-os ao grupo narcotraficante Guerreros Unidos.
Ao citar confissões de membros deste gangue, o então procurador-geral Jesus Murillo Karam disse que os estudantes foram mortos e colocados numa pira funerária que ardeu durante 14 horas, antes de as suas cinzas terem sido despejadas num rio das proximidades.
Apenas os restos humanos queimados de um estudante terá sido identificado no saco encontrado na água.
No entanto, a comissão contratou um especialista peruano em fogos que concluiu ser impossível que os estudantes tenham sido queimados na lixeira em Cocula.
José Torero, professor na universidade australiana de Queensland e natural do Peru, considerou que uma pira dessas dimensões teria queimado vegetação e lixo em seu redor, mas foram apenas encontradas provas de pequenos fogos.
Para cremar tantos corpos, teriam sido necessárias 30 toneladas de madeira, 13 toneladas de pneus e 13 toneladas de gasóleo para cremar tantos corpos, e o processo teria demorado 60 horas, concluiu Torero.
"Não existem provas que indiquem a presença de um fogo do tamanho de uma pira [funerária] para a cremação nem que fosse de um corpo", precisou Torero no relatório.
O documento hoje divulgado também sugere que um autocarro carregado com droga oculta poderá ter sido o móbil do ataque armado, que provocou a morte de seis estudantes no local, o desaparecimento de mais 43 jovens e dezenas de feridos.
Durante a ação de protesto em 26 de setembro, os estudantes apoderaram-se de cinco autocarros em Iguala para se deslocarem até à cidade do México onde participariam numa manifestação, mas a investigação omite um dos veículos.
A ocupação dos autocarros poderá ter-se cruzado "com a existência de drogas ilícitas (ou dinheiro), em um dos veículos, assegurou o Grupo interdisciplinar de peritos independentes (GIEI), também responsável pelas conclusões desde documento.
Após seis meses de investigação, o relatório desta comissão de especialistas independentes e que integra os membros da Comissão de Direitos Humanos volta assim a colocar diversas questões face à versão oficial de um crime que motivos protestos generalizados no México e provocou a maior crise do Executivo de Peña Nieto.