O ministro britânico das Finanças, Sajid Javid, surpreendeu Boris Johnson e respetivo Executivo ao demitir-se do cargo, quase duas semanas após o Brexit e a cerca de um mês da apresentação do Orçamento de Estado, no próximo dia 11.
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Não demorou muito para que Downing Street anunciasse o nome do substituto, Rishi Sunak, que desde julho de 2019 era secretário do Tesouro. A renúncia de Javid surge no momento em que o primeiro-ministro impõe uma remodelação governamental - que abateu cinco figuras principais e várias secundárias -, que acabou por espoletar a ruptura entre Johnson e o até agora titular da pasta das Finanças.
Para levar a cabo a reorganização - a mais significativa desde a vitória nas eleições legislativas, em dezembro passado -, Johnson exigiu que Javid demitisse todos os elementos da sua equipa de assessores e os substituísse por outros, designados pelo Governo, medida à qual o ministro se opôs. Além disso, eram crescentes as tensões entre o responsável pelas Finanças e Dominic Cummings, estratega e conselheiro do primeiro-ministro.
Um dos episódios mais relevantes aconteceu em setembro, quando Sonia Khan, assessora de Javid, foi despedida, sem aviso prévio, por Cummings, que ordenou que lhe fosse retirado o telemóvel e que fosse escoltada pela Polícia até ao portão dos edifícios governamentais.
Sobre as exigências de Johnson, afirma Javid: "Nenhum ministro que se respeite a si próprio poderia aceitar as condições que me queriam impor".
Outra surpresa da remodelação consiste na substituição do ministro para a Irlanda do Norte, Julian Smith, que ainda há poucas semanas tinha conseguido reativar as instituições semi-autónomas da província, após três anos de bloqueio (ler caixa).
"Fair play" quanto baste
No combate das alterações, caíram mais três titulares ministeriais. Foram os casos de Andrea Leadsom - Economia -, Theresa Villiers (Ambiente) e Esther McVey, da Habitação. De pouco lhes valeu serem eurocéticas empedernidas, como o homem que as despediu.
Ainda assim, Leadsom era já uma espécie de "dinossauro" no calendário de Johnson, pois tinha servido Theresa May, antecessora do atual primeiro-ministro.
Mas, alegadamente, não há como os britânicos para exercitar o "fair play", independentemente do grau de hipocrisia implícito. Para Leadsom, foi um "privilégio fazer parte de governos consecutivos durante seis anos", chefiados por David Cameron, May e Johnson.
Por seu lado, apesar de "lamentar" a demissão, McVey garante que vai "continuar a apoiar" o Executivo na condição de deputada.
Entre os que se mantêm no navio governamental, contam-se Dominic Raab, ministro dos Negócios Estrangeiros; Jacob Rees-Mogg, dos Assuntos Parlamentares; Priti Patel, ministra do Interior, e Michael Gove, com a pasta do Conselho de Ministros.
Irlanda do Norte
Queda de "um dos melhores ministros"
A demissão mais comentada na remodelação governamental que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, levou a cabo foi a do ministro para a Irlanda do Norte, Julian Smith, que liderou o processo de restauração do funcionamento do Executivo e Parlamento autónomos em janeiro, depois de três anos suspenso devido à falta de entendimento entre Sinn Féin e Partido Democrata Unionista. Uma das personalidades que se manifestaram nem sequer é britânica. "Em oito meses, Julian ajudou a restaurar o poder partilhado em Stormont [Parlamento norte-irlandês], assinou um acordo connosco para evitar uma fronteira física e promoveu a igualdade no casamento. É um dos melhores políticos do Reino Unido", afirmou o primeiro-ministro da República da Irlanda, Leo Varadkar.
Trocas ministeriais
Finanças
Sai Sajid Javid e entra Rishi Sunak, que não se importa que Johnson lhe imponha os assessores.
Irlanda do Norte
Brandon Lewis vai substituir Julian Smith, ministro que realmente apresentou resultados.
Economia
Andrea Leadsom cede o lugar a Alok Sharma, ex-secretária do Desenvolvimento Internacional.
Ambiente
Cai uma eurocética ferrenha, Theresa Villiers, sobe um eurocético ferrenho, George Eustice.
Habitação
Christopher Pincher é o substituto de Esther McVey, que esteve seis meses no ministério.