Presidência ucraniana faz balanço positivo do encontro de paz que decorreu em Jeddah. Rússia admite discutir conclusões com parceiros do bloco BRICS.
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China, EUA, África do Sul, Espanha ou Alemanha foram alguns dos mais de 40 convidados que marcaram presença na reunião de paz promovida pela Arábia Saudita, que decorreu ao longo de dois dias e chegou este domingo ao fim em Jeddah. Andriy Yermak, chefe do gabinete da presidência da Ucrânia, que representou o país invadido, revelou que as conversações foram “produtivas”. Já a Rússia, que não participou no diálogo, promete ouvir os parceiros do bloco económico BRICS que voaram até ao Médio Oriente.
“Tivemos conversações produtivas sobre os princípios em que se deve ancorar uma paz justa e duradoura”, informou Yermak, através de um comunicado na página oficial da Presidência ucraniana, acrescentando que, apesar das visões diferentes, “todos os participantes demonstraram o compromisso dos seus países com os princípios da Carta da ONU, o direito internacional e o respeito pela soberania”.
O responsável ucraniano, que esteve ainda em encontros bilaterais, salientou que a reunião em Jeddah representa um passo para a “implementação prática das iniciativas de paz propostas pela Ucrânia”, remetendo para o plano de paz de dez pontos que o presidente Volodymyr Zelensky apresentou.
Além da proposta ucraniana, esteve em cima da mesa, segundo a agência alemã DPA, um plano de paz com propostas sauditas. Embora não exista um comunicado oficial neste sentido, o meio de comunicação germânico adianta que o rascunho propõe um cessar-fogo, a troca de prisioneiros e o início de negociações sob a alçada das Nações Unidas.
Moscovo mostra-se, no entanto, descrente nos resultados da reunião de paz promovida pelos aliados de Riade. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, referiu que não existem bases para que seja fundamentado um acordo que leve ao fim da invasão russa.
Por sua vez, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Ryabkov, defendeu que a reunião se tratou de “um reflexo da tentativa do Ocidente de continuar esforços fúteis e condenados” para mobilizar o sul global em prol da posição do chefe de Estado ucraniano. Ainda assim, admitiu ouvir as conclusões retiradas do encontro. “Considero que a participação dos colegas do BRICS pode ter trazido algum benefício. Ainda precisamos de perceber o que aconteceu em Jeddah”, reconheceu o governante.
Pequim quer nova ronda
Também os EUA descreveram o encontro como “construtivo”. Ao portal “Al Arabiya”, um dos membros da comitiva norte-americana referiu que o debate foi “bom” e mostrou que as nações – tal como a NATO e a União Europeia – estão comprometidas em “construir um terreno comum para uma paz justa”.
Já a China, que inicialmente disse que não enviaria nenhum representante para a iniciativa na cidade saudita, mostrou-se favorável a uma nova ronda de negociações. “Há pontos de desacordo, mas é importante que os nossos princípios sejam partilhados”, afirmou Li Lui, representante chinês para os assuntos euro-asiáticos, citado pela agência Reuters.
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Ataque é “crime de guerra”
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, denunciou um bombardeamento aéreo russo que deixou vários mortos e feridos num centro de transfusão de sangue na região de Kharkiv, no leste do país. O líder ucraniano qualificou o ataque, que resultou num grande incêndio [ver imagem], como “um crime de guerra”, que “diz tudo sobre a agressão russa”.
Investida noturna faz três mortos
Na madrugada deste domingo, a Rússia lançou um massivo ataque noturno, recorrendo a cerca de 70 mísseis e 26 drones Shahed 136. O ataque resultou na morte de duas pessoas em Kharkiv, onde quatro civis também ficaram feridos. Em Donetsk, no Donbass, também uma idosa de 80 anos acabou por não resistir aos ferimentos causados pelo bombardeamento.
Kiev ataca ponte de Chongar
O Exército ucraniano disparou vários mísseis contra a ponte de Chongar, que liga as regiões ucranianas anexadas de Kherson e da Crimeia, um dos quais danificou o seu pavimento rodoviário, disse o governador pró-russo da região de Kherson.
Crianças continuam a ser raptadas
De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, um “think-thank” norte-americano, o Kremlin continua a raptar crianças, transportando-as de territórios ucranianos controlados pelas forças invasoras para a Rússia.
Kiev substitui símbolo soviético
As autoridades ucranianas substituíram o símbolo soviético do monumento que representa a pátria, em Kiev. O escudo ostentava o brasão de armas da União Soviética, tendo agora sido instalado o tridente nacional ucraniano. A mudança é mais uma das medidas do Governo para romper com a influência russa.