A Ucrânia saiu a perder na frente económica. A Rússia aproveitou preços altos do petróleo e gás natural para maximizar receitas em 2022, virando-se igualmente para a China, Índia e Turquia. A economia mundial ressentiu-se e muito.
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Um ano volvido sobre o início da guerra (24 de fevereiro de 2022), é tempo de deitar contas à vida da economia dos dois países envolvidos. No entanto, olhar só para o invasor e para o invadido é redutor. Numa perspetiva dual, a economia da Ucrânia caiu 37% e a da Rússia apenas 3,4% no conjunto do ano passado, de acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentadas em outubro último. Esta terça-feira, dia do discurso de Vladmir Putin sobre o Estado da Nação, em Moscovo. a agência estatal "Rosstat Monday" avançou que o PIB russo terá sofrido, afinal, uma contração de apenas 2,1% em 2022. Segundo o FMI, o regime de Moscovo deverá minorar a queda da atividade económica para 2,3% em 2023, nunca antes.
Economia ucraniana recuou 37% e a russa 3,4% em 2022
"A economia e o sistema de gestão russos revelaram-se muito mais fortes do que o Ocidente acreditava", disse Putin. Será assim? É verdade que os cenários catastrofistas sobre a economia do país invasor não se confirmaram. Quanto à Ucrânia, país invadido, segundo a Consensus Forecasts, a maioria das estimativas apontam para uma queda média do PIB na ordem dos 37% em 2022, com uma possível recuperação em torno dos 8% em 2023.
Desde a invasão, o Conselho Europeu adotou nove pacotes de sanções contra a Rússia e a Bielorrússia, oito dos quais produziram efeitos em 2022. As sanções tiveram como objetivo enfraquecer a capacidade da Rússia para financiar a guerra e visaram especificamente a elite política, militar e económica responsável pela invasão.
Mas será que as sanções resultaram, entre elas a limitação do preço a pagar pelo barril de petróleo proveniente do regime liderado por Putin? Em 2022, o efeito foi muito limitado, como se deduz pela ligeira queda do PIB russo.
O comércio de gás natural e de petróleo pesam 18% na economia do país que invadiu a Ucrânia. Durante todo o ano de 2022, a Rússia conseguiu aumentar sua produção de petróleo em 2% e aumentar as receitas de exportação em 20%, segundo estimativas do Governo russo e da Agência Internacional de Energia. Os ganhos da Rússia foram ajudados por um aumento geral nos preços do petróleo após o início da guerra e pela crescente procura pós-pandemia. A Rússia também logrou um aumento de quase 80% nas receitas com gás natural, em relação a 2021, já que os preços recorde compensaram os cortes nos fluxos para a Europa.
Há outra explicação relativamente fácil para o impacto moderado da guerra e das sanções. A Rússia atenuou o impacto das medidas ocidentais ao redirecionar as exportações de petróleo para a China , Índia e Turquia, explorando seu acesso a portos de petróleo em três mares diferentes, extensos oleodutos, uma grande frota de navios-tanque e um considerável mercado interno de capitais protegido das sanções ocidentais.
A Rússia atenuou o impacto das sanções ao exportar petróleo para a China, Índia e Turquia
O problema da guerra e da resposta ocidental em termos de sanções foi o efeito boomerang. Ou seja, a Rússia desestabilizou a economia mundial, aparentemente até mais do que a sua própria, o que pode ser considera uma vitória, mesmo que não planeada, do Kremlin. O FMI prevê que o crescimento mundial desacelere de 6% em 2021 para 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023. Estamos perante o desempenho mais fraco desde 2001. A instituição prevê ainda que a inflação mundial aumente de 4,7% em 2021 para 8,8% em 2022, mas diminua para 6,5% em 2023 e para 4,1% em 2024.