Lviv estremunhou com os estouros de artilharia e de mísseis. A Rússia ataca, mas a cidade natal de Masoch (1835-1895) não se sujeita ao sofrimento causado pelos blindados e pelas bombas. A resistência está preparada.
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A cidade que já foi da Áustria e da Polónia, e que daqui dista a 30 quilómetros, era um dos últimos redutos de segurança em território ucraniano, também passou a estar sob fogo russo, como se verificou esta manhã de sexta-feira. Nada para o que o burgo de 800 mil habitantes esteja disponível, embora todos os roteiros lhe indiquem a paternidade do masoquismo.
Lá no centro de Lviv, o Masoch Café é só um tributo a Leopold von Sacher-Masoch, escritor e jornalista autor de "A Vénus das Peles". O espaço é também um museu, decorado, logo à entrada, com uma estátua de bronze de Leopold, em tamanho real. Tornou-se num ex-libris da cidade, com pratos peculiares, esmerado serviço à lista ("pénis", "testículos de carneiro"...) e cocktails afrodisíacos ("orgasmo", "felácio", "breast milk", "masochito"...).
Domínio e (in)submissão
Resumidamente, masoquismo é a busca do prazer através da dor física ou moral. Masoch, era, contudo, muito mais rebuscado do que isso e verbalizou a própria experiência pessoal. Em 1869 conheceu a baronesa Fanny Pistor e tornaram-se amantes.
A relação depressa redundou num contrato singular: o escritor aceitou ser o escravo sexual da baronesa, com a condição de ela o açoitar e de usar sempre peles na alcova do casal; a experiência passou ao prelo e contou tudo, através da personagem de Severin, que atinge o prazer quando Wanda o domina e fustiga.
Apesar de todo este legado de fama mundial, Lviv parece desdenhar Masoch, ao ponto de lhe sublinhar que é filho de austríaco e herança da Áustria, que dominava a Galícia no ano do nascimento do escritor.
Sem mais nenhuma referência na cidade além do Masoch Café, a ligação de Masoch a Lviv encontra-se em certos poemas de "A Vénus das Peles", cuja personagem, a baronesa Fanny, era "uma viúva de Lwow" (nome polaco da cidade).