Carla Almeida, de 23 anos, aterrou, ontem, em Maputo, pela primeira vez. Objectivo: estudar Arquitectura e, quem sabe, ter "uma experiência diferente". Mas não era este tipo de experiência que Carla imaginava viver: ficou sete horas retida no aeroporto "sem noção do que estava a acontecer, para além do fumo que se via ao longe, na cidade".
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Ao telefone, a futura arquitecta explicou que, perante a falta de respostas do Consulado português, acabaram - Carla e mais dois estudantes vindos de Portugal - por conseguir sair do aeroporto rumo à residência universitária com escolta policial por outros meios. "A polícia seguia à nossa frente a alta velocidade. Tinham metralhadoras. Pelo caminho vi troncos queimados, pessoas a correr, senti um clima hostil nas ruas. Nos olhares das pessoas". Mas foi quando o veículo em que seguiam parou, devido a pedras que tinham colocado na estrada, que temeu o pior. "Nesse momento, senti medo. A polícia parecia pronta a disparar. Mas tudo acabou por correr bem", contou, já a sentir-se em segurança, na residência universitária, onde o clima era "tranquilo".
Tranquilidade era, também, a forma como um português residente e trabalhador no centro de Maputo há oito anos descreveu, ontem à tarde, a cidade. "Está tudo calmo. Não há um banco, um café, uma pastelaria, não há nada aberto", contou. Ao contrário da maioria da população, foi trabalhar como se fosse um dia normal.
"O que aconteceu passou-se na periferia, onde há revolta contra uma classe dirigente que acumula riqueza, enquanto o povo nada tem. Há tensão."
Mas este emigrante português, que diz sentir-se seguro e confiante numa evolução pacífica da situação - "até porque as autoridades já sabem melhor como agir nestes contextos" - explica que, para lá do que sucedeu, o "povo moçambicano é dócil e pacífico. Mais facilmente vejo uma briga num bar lisboeta. Aqui, não".