Os mercados têm sido pressionados pelos receios dos investidores devido às tarifas aplicadas pelos EUA ao resto do mundo e que deverão sofrer retaliações, provocando perdas que lembram alguns dos episódios mais negros das bolsas internacionais.
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No espaço dos últimos cinco dias, o tecnológico norte-americano Nasdaq (-10,02%), o japonês Nikkei (-12,58%) e o Hang Seng de Hong Kong (-15,36%) apresentaram perdas avultadas, com este último a registar hoje a pior sessão desde a crise de 2008, recuando 13,2%.
Já na Europa, Milão, Frankfurt e Paris também perderam mais de 10% da sua valorização desde meio da semana passada.
Em Portugal, o PSI recuou 8,53% no mesmo período.
O mercado continua a ser afetado pela entrada em vigor das tarifas impostas por Donald Trump aos parceiros comerciais dos Estados Unidos e pelas medidas de retaliação anunciadas pela China, que podem ser seguidas pelas de outras grandes economias, como a da UE.
Desde o início do século XX, foram vários o eventos que impactaram o desempenho das bolsas de valores, desde a "Black Friday" de 1929, em Wall Street, que abriu caminho à Grande Depressão, até à pandemia da covid-19.
Em 24 de outubro de 1929, na apelidada "Quinta-feira Negra", o índice Dow Jones recuou mais de 22% na abertura. Apesar da recuperação que limitou as perdas na sessão a 2,1%, as quedas de 13% e de 12% em 28 e 29 de outubro, respetivamente, não foram evitadas, acendendo um rastilho que culminou no início da Grande Depressão nos EUA e numa crise económica mundial.
Também num mês de outubro, mas 58 anos depois, em 1987, os mercados viveram o primeiro "crash" da era digital. Em 19 de outubro, na que ficou conhecida como "Segunda-feira Negra", ou "Black Monday", o Dow Jones perdeu 22,6% num só dia, depois do agravamento do défice comercial e da subida das taxas de juro diretoras pelo Bundesbank. O movimento de Wall Street foi acompanhado por outras bolsas.
O ano de 2000 ficou marcado pelo fim da chamada bolha das "dotcom". Quando a bolha especulativa que envolvia as empresas ligadas às novas tecnologias e à internet se esvaziou, o Nasdaq perdeu 27% nas duas primeiras semanas de abril e quase 40% no espaço de um ano.
Menos de uma década depois, em 2008, as consequências do mercado hipotecário de alto risco chegaram aos investidores, não só da praça nova-iorquina, como do resto do mundo. As perdas nos principais índices bolsistas oscilaram entre os 30% e os 50% entre janeiro e outubro, em particular em várias sessões neste último mês.
A crise financeira, que culminou com a falência do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008, e levou os EUA a uma recessão, deixou milhões de norte-americanos a perder as suas casas.
Mais uma uma quinta-feira negra
Antes da pressão resultante das tarifas, o mais recente choque tinha ocorrido com a pandemia da covid-19, declarada em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No dia seguinte, as bolsas viveram uma quinta-feira pintada de vermelho: Nova Iorque, com perdas de 10%, teve a sua maior contração desde o "crash" de 1987.
Na Europa, Paris, Madrid e Milão tiveram quedas diárias inéditas e continuaram a sentir-se nos dias seguintes.
Agora, com as consequências das tarifas da administração de Donald Trump, os mercados já anularam o entusiasmo ganho quer durante a eleição do republicano, em novembro, quer durante a sua tomada de posse, em janeiro.
Hoje, a Comissão Europeia (CE) disse que não é “do interesse da economia em geral” nem da União Europeia ver as bolsas de valores, nomeadamente comunitárias, com quedas superiores a 5%.
A maioria dos economistas acredita que as tarifas ameaçam mergulhar a economia numa recessão e, ao mesmo tempo, destruir alianças de décadas.
A União Europeia está a preparar-se para tensões na relação com a nova administração de Donald Trump, especialmente em relação a tarifas comerciais, mas no espaço comunitário paira a incerteza sobre a parceria transatlântica.