"Temos sobrevivido graças aos voluntários". Depois das chuvas, a incógnita dos desaparecidos
"Estamos vivos". Por todo o lado esta é a frase que mais se ouve. Entre ruas enlameadas, carros amontoados, casas destruídas e um cenário de devastação, “estamos vivos” é a frase dita com esperança e tristeza.
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Esperança porque quem a pronuncia sabe que sobreviveu a um filme de terror. Tristeza porque todos conhecem alguém que morreu ou que faz parte desse número incerto de desaparecidos.
O número de mortos, que vai em 205 (202 dos quais em Valência), já é, por si só, desolador, mas, em surdina, começa a dizer-se que podem ser várias centenas mais. Três dias depois do temporal, há bairros inteiros sem comunicação, zonas onde ninguém chegou e, em todas as localidades, montes de carros empilhados.
São montanhas de cinco, sete, dez viaturas num equilíbrio impossível. E lá dentro, em muitos deles, teme-se que haja pessoas. Talvez famílias inteiras. “É impossível determinar o número de desaparecidos”, disse esta sexta-feira a ministra da Defesa, Margarita Robles. “Há muitas pessoas dentro de carros e outras nas caves e garagens dos edifícios”, acrescentou. Segundo o “El Mundo”, a Generalitat trabalha com uma base de 2500 chamadas de denúncias de desaparecidos.
Hoje estavam 2000 militares no terreno, em tarefas de busca e resgate, mas também de limpeza com maquinaria pesada e em distribuição de alimentos e água. “Vão ser enviados tantos quantos forem precisos”, garantiu a ministra. “Não é tanto o número, mas o tipo de equipamento que trazem, que é essencial”.
Mas, no terreno, muitos cidadãos queixam-se de falta de apoio. “Temos sobrevivido pelos voluntários. Só hoje é que começaram a chegar os bombeiros e o exército”, diz Mário, em Massanassa, a pouco mais de cinco quilómetros de Valência.