Tensão e distúrbios rodearam, este sábado, uma manifestação pró-palestiniana pelas ruas de Londres para apelar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza que mobilizou centenas de milhar de pessoas.
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Grupos de apoiantes de extrema-direita concentraram-se na capital britânica e envolveram-se em confrontos com a polícia londrina para tentar perturbar a manifestação principal.
Transportando bandeiras com a cruz de São Jorge (vermelha sobre fundo branco) e gritando "Inglaterra até à morte", alguns tentaram chegar ao cenotáfio, um monumento em honra aos mortos da Primeira Guerra Mundial, durante uma cerimónia para marcar o aniversário do Armistício.
O grupo empurrou agentes e tentou derrubar vedações, tendo pelo menos 80 sido detidos pela polícia.
Os tumultos aconteceram à margem da manifestação pró-palestiniana, que desfilou pelas ruas de Londres desde Hyde Park até à embaixada dos Estados Unidos.
Os organizadores, grupos de esquerda e organizações muçulmanas como a Campanha de Solidariedade com a Palestina, Amigos de Al-Aqsa, Coligação "Stop the War", Associação Muçulmana, Fórum Palestiniano e Campanha para o Desarmamento Nuclear, esperavam mobilizar um milhão de pessoas.
Muitos manifestantes transportavam bandeiras palestinianas e cartazes com mensagens como "Palestina livre", "Fim ao cerco" "e "Mãos fora da Palestina".
Entre os cânticos entoados ouviu-se "Ocupação nunca mais" e "Israel é um Estado terrorista".
O casal britânico Peter e Anna viajaram de perto de Dover, no sul de Inglaterra, a cerca de duas horas de comboio, para este protesto, ela envergando um lenço típico árabe "keffiyeh".
"Achamos que o crescente balanço de mortes e feridos em Gaza exige um cessar-fogo, mas também queremos defender o direito de manifestação", afirmou Peter à agência Lusa.
Na sua opinião, a ministra do Interior, Suella Braverman, inflamou as tensões ao acusar a polícia de "favoritismo" por permitir a manifestação, a qual descreveu como "bando de pró-palestinianos" e "manifestantes pelo ódio". "Está a fazer isto por interesse próprio, para se promover", afirmou.
Também participante nestes protestos pela primeira vez, Richard Guy admite que a polémica causada pela ministra aumentou o interesse na manifestação, a qual espera que ajude a pressionar o Governo e o Partido Trabalhista a mudarem de posição e pedirem um cessar-fogo em vez de "pausas humanitárias".
"Hoje é o dia em celebramos os heróis de outras guerras. Que melhor forma de o fazer do que pedir o fim dos bombardeamentos em Gaza? É vergonhoso o que [primeiro-ministro] Rishi Sunak e [o líder Trabalhista] Keir Starmer estão a fazer", defendeu.
Na manifestação foi possível ver pessoas em cadeiras de rodas, famílias com crianças em carrinhos de empurrar e idosos com bengalas.
Vários grupos de judeus também participaram, incluindo alguns haredi [ultraortodoxos], vestidos com a indumentária tradicional e chapéus.
Sarah, uma descendente de judeus, disse à Lusa que estava a manifestar-se pela avó, "sobrevivente do Holocausto que nunca concordou com a deslocação dos palestinianos de Israel".
Nas mãos empunhava um cartaz onde se lia "O único caminho para a paz é um acordo".
"Receio que a dimensão de mortes em Gaza acabe numa limpeza étnica. Acho que os palestinianos têm direito a liberdade, paz e justiça", vincou.
Dezenas de milhares de pessoas participaram em protestos todos os sábados nas ruas de Londres e em outras cidades do país desde o início dos bombardeamentos de Israel em Gaza, em resposta aos ataques mortais do grupo militante palestiniano Hamas no mês passado.
O Governo e a polícia apelaram para que a manifestação fosse cancelada devido ao facto de ser o Dia do Armistício, que marca o fim da Primeira Guerra Mundial.
O primeiro-ministro, Rishi Sunak, classificou o protesto de "provocatório e desrespeitoso" e a polícia alertou para o risco crescente de violência.
Mas os organizadores responderam que a marcha era pacífica e o percurso, entre Hyde Park e a embaixada dos Estados Unidos, em Londres, evitava locais relacionados com as comemorações do Armistício.
As autoridades reforçaram o dispositivo de segurança com cerca de dois mil agentes e medidas extraordinárias, como poderes adicionais para revistar pessoas e obrigar a que removam máscaras faciais.