A intervenção militar de hoje, quinta-feira, na Guiné-Bissau é mais um passo na consolidação da instabilidade que há anos assentou no país, um dos mais pobres do mundo e constantemente falado na Imprensa pelos piores motivos.
Corpo do artigo
Desta vez a intervenção militar, que resultou na detenção do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e do chefe das Forças Armadas, almirante Zamora Induta, juntou o número dois da hierarquia castrense, o major-general António Indjai e um antigo chefe da Armada, almirante José Américo Bubo Na Tchuto.
A meio da tarde, numa reunião que juntou no quartel-general das Forças Armadas o presidente da República, Malam Bacai Sanhá, o representante do secretário-geral da ONU, Joseph Mutaboba, o ministro da Defesa, Aristides Ocante da Silva, e as chefias militares "de facto", saíram duas posições divergentes.
À saída, enquanto Sanhá, Mutaboba e Ocante da Silva acentuaram a necessidade de se apostar na calma, frisando que os acontecimentos de hoje traduzem uma "questão interna militar", as chefias militares optaram pela dramatização da situação.
E ameaçaram que disparariam contra a população, caso se mantivessem as concentrações de populares em vários pontos da capital, em defesa de Carlos Gomes Júnior, que se manifestaram contra o que classificaram como mais um "golpe de Estado".
Em conferência de Imprensa, manifestaram ainda a intenção de julgar quer Gomes Júnior quer Induta pelo que consideram serem "crimes contra o povo".
De assinalar que o presidente Bacai Sanhá, que é constitucionalmente o comandante em chefe das Forças Armadas guineenses, se deslocou ao quartel-general da Amura, para a reunião com Na Tchuto e Indjai.
Enquanto Zamora Induta se mantém preso na base aérea nos arredores de Bissau, mais um grupo de oficiais superiores em número desconhecido, o chefe do Governo encontra-se na sua residência, sob vigilância militar.
A intervenção militar não provocou até ao momento alterações de ordem política, apenas se cingindo à esfera militar. As próximas horas ou dias serão decisivas para se compreender o alcance da acção desta manhã.
Este episódio de instabilidade ameaça uma vez mais a execução do programa de apoio à reforma das forças de defesa e segurança, totalmente financiado pela comunidade internacional.
As repercussões internacionais dos acontecimentos de hoje em Bissau são variadas, com a França a condenar o que designa de golpe de estado, enquanto o Governo português repudiou "qualquer tentativa de alteração da ordem constitucional".
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), actualmente presidida por Portugal, disponibilizou-se para encontrar uma saída para esta nova crise, "quando perceber quem controla a situação".
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenou os acontecimentos e advertiu para as consequências.