Os terroristas que atuam na província moçambicana de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, têm vindo a intercetar viaturas e raptaram um motorista de transporte de passageiros.
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O rapto aconteceu na tarde de sexta-feira, na estrada Nacional 380 (N380), no cruzamento de Unguia, a 56 quilómetros da sede distrital de Meluco, quando o motorista se recusou a parar após ter sido intercetado.
De seguida, os terroristas dispararam contra os pneus da viatura e ordenaram a retirada de todos os passageiros, obrigando o motorista a permanecer no interior.
"Ele logo percebeu que eram eles [terroristas], só que queria desafiar. Furaram o carro e jantes. Aos outros foi dito 'podem ir a pé'", relatou uma fonte que estava na viatura, a partir da sede distrital de Ancuabe.
No mesmo dia, um motorista da Direção de Identificação Civil, que se deslocava de Meluco para a cidade de Pemba, encontrou, durante o trajeto, a comunidade de Unguia totalmente abandonada, tendo a população procurado refúgio nas matas.
"Voltou para as matas e encontrou um grupo de pessoas a quem pediu um telefone para comunicar com a esposa, alertando sobre a situação", acrescentou outra fonte, relatando igualmente que não é a primeira vez que os rebeldes intercetam viaturas naquele troço da N380, onde a circulação é feita sem escolta militar, contrariamente ao que acontece noutros pontos de Cabo Delgado.
Já na tarde de domingo, perto da aldeia de Nangororo, no distrito de Meluco, alegados terroristas interpelaram uma outra viatura de transporte de passageiros que assegurava a ligação entre Nampula e Palma, com quase 60 pessoas, obrigando os ocupantes a entregarem os seus pertences.
"De repente os terroristas, num bom número e todos armados, saíram na estrada e interpelaram o autocarro. Obrigaram os passageiros a entregarem dinheiro como condição para a viagem continuar. Os passageiros entregaram o dinheiro e [eles] deixaram a viagem continuar", disse uma fonte, a partir de Macomia, relatando o pânico sentido pelos ocupantes, tendo o caso sido participado às autoridades.
Já na manhã de sábado, outro grupo de insurgentes atacou a comunidade de Litamanda, distrito de Macomia, sendo suspeitos da morte de uma jovem de 19 anos de idade, situação que gerou pânico entre os moradores, que fugiram para a vizinha comunidade de Chai, que conta com uma posição militar.
"Eles entraram em Litamanda, porque tem um número muito reduzido de pessoas a viver. A jovem foi encontrada morta nas imediações", disse fonte próxima da vítima.
População captura suspeitos
Populares da aldeia de Nanoa capturaram três suspeitos de colaborarem com os grupos terroristas que operam na região, entre os dias 6 e 7 de fevereiro.
"Capturaram três pessoas em Nanoa, um deles congolês. Saiu de uma mata e tinha uma ferida grande. Devido às suas características gerou desconfiança na comunidade", disse à Lusa, a partir da sede do distrito de Ancuabe, Cabo Delgado, uma fonte da comunidade local.
O suspeito natural da República Democrática do Congo chegou a pedir aos proprietários do campo onde foi encontrado para o ajudarem a chegar ao hospital mais próximo, para receber tratamento, tendo sido capturado em seguida pelos populares.
Os outros dois suspeitos, ambos moçambicanos, oriundos da vizinha província de Nampula, também surgiram num campo agrícola em Nanoa, que dista seis quilómetros da sede distrital de Ancuabe, onde acabaram capturados e entregues igualmente às autoridades.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada, com ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
Após um período de relativa estabilidade, novos ataques e movimentações foram registados em Cabo Delgado nas últimas semanas, embora as autoridades locais suspeitem que a movimentação esteja ligada à perseguição imposta pelas forças de defesa e segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe, entre os mais afetados.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.