A antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher receava que a Espanha pudesse atacar Gibraltar enquanto o Reino Unido estava envolvido na guerra das Malvinas com a Argentina, revelam documentos oficiais divulgados, esta sexta-feira, em Londres.
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De acordo com os documentos, que abordam vários aspetos da guerra com a Argentina, Thatcher ordenou o reforço da defesa em Gibraltar embora os seus assessores considerassem pouco provável uma investida por parte do exército espanhol.
"Entendo que a primeira-ministra tenha expressado preocupação com as implicações da crise das Malvinas em Gibraltar, especialmente à luz de informações que indicam que a reação da imprensa espanhola [à invasão argentina] foi de júbilo", assinala uma nota do secretário da então chefe do Governo britânico.
Segundo este funcionário, a opinião dos militares era contudo diferente.
"Não temos razões para acreditar que exista uma ameaça militar maior contra Gibraltar por parte do Governo espanhol", escreveu na altura o funcionário.
O secretário de Margaret Thatcher relatava que os serviços de informações acreditavam que Espanha tinha "capacidade militar para lançar um ataque a curto prazo", mas consideravam "muito improvável" que ocorresse com o Governo então em funções.
Mas Margaret Thatcher manteve as suas suspeitas e os documentos desclassificados hoje revelam que escreveu a marcador, na margem da referida nota, que a avaliação sobre Gibraltar "se assemelhava perigosamente" à que tinha sido feita sobre a Argentina pouco antes de aquele país ter invadido as Malvinas.
Em abril de 1982 - em plena guerra das Malvinas [02 de abril e 14 de junho] - soube-se que o exército espanhol planeava um exercício anfíbio e, ainda que se acreditasse ser improvável que este resultasse num ataque àquele território britânico, o Reino Unido reforçou a defesa área em Gibraltar.
O exercício decorreu sem incidentes e a guerra nas Malvinas, iniciada com a invasão do território pela Argentina, que reclamava direitos históricos de soberania, não teve qualquer impacto na colónia britânica ao sul de Espanha.
Os documentos desclassificados hoje em Londres, após os 30 anos de confidencialidade obrigatórios, revelam também que a invasão argentina surpreendeu a então primeira-ministra, que considerava que tal ato seria "estúpido" e só o encarou como possibilidade real a escassos dias de se concretizar.
Os documentos revelam ainda que a primeira-ministra britânica tinha um plano que previa acabar com o serviço nacional de saúde e a educação gratuita, mas viu-se forçada a travar a sua aplicação para evitar "um motim" dentro do executivo conservador.