Todas as crianças da cidade síria de Alepo estão traumatizadas por assistirem a alguma da pior violência da guerra, disse este domingo o chefe do escritório da UNICEF em Alepo.
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"Todas as crianças de Alepo estão a sofrer. Todas estão traumatizadas. Nunca na minha vida vi uma situação tão dramática [como] o que está a acontecer às crianças de Alepo", disse Radoslaw Rzehak, que trabalha para a Agência das Nações Unidas para a Infância há 15 anos.
Falando à agência France-Presse em Alepo, Rzehak frisou que as dezenas de milhares de crianças que vivem na cidade são testemunhas de uma das fases mais sangrentas da guerra que devasta a Síria há quase seis anos.
Para Rzehak, o meio milhão de crianças de Alepo precisa de algum tipo de apoio psicológico e social, incluindo cerca de 100.000 que necessitam de uma assistência mais especializada.
A zona leste de Alepo (norte) era um bastião rebelde desde 2012, mas nas últimas três semanas as forças governamentais tomaram mais de 85% dessa área.
A ONU estima que 120.000 pessoas tenham fugido do leste de Alepo, muitas para centros de deslocados montados pelo governo na parte oeste da cidade.
Segundo Rzehak, avaliações psicossociais preliminares feitas nesses centros mostraram que as crianças do leste de Alepo estavam a "perder o instinto básico de defesa".
"Algumas crianças, que têm 5 ou 6 anos, nasceram quando já havia guerra. Tudo o que conhecem é guerra e bombardeamentos", disse.
"Para elas, é normal estarem a ser bombardeadas, terem de fugir, é normal terem fome, terem de se esconder em 'bunkers'. Estes traumas vão perdurar por muito, muito tempo", prosseguiu.
Esta situação, disse, coloca-as ainda mais em risco, uma vez que não foram condicionadas para se proteger de ataques: "Para elas isto não é o perigo, é a vida de todos os dias".
Por outro lado, as crianças do leste de Alepo são severamente afetadas por verem colegas de escola ou professores morrerem em ataques às suas escolas.
"O local que era o mais seguro para as crianças tornou-se o local onde elas morrem", disse.
A guerra afetou até a capacidade dos pais para cuidarem dos filhos porque têm de lidar com os seus próprios traumas: "Eles também passaram pelo pesadelo", disse.
Mais de 300 mil pessoas morreram desde o início do conflito na Síria, em março de 2011, e milhões foram obrigadas a fugir.