Dois antigos primeiros-ministros e um ex-presidente estão na corrida ao Eliseu.
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Mais de dois milhões de franceses participam este domingo na primeira volta das "primárias" que vão escolher o candidato que Os Republicanos e outros partidos da Direita e do Centro vão apresentar, em abril de 2017, às mais preocupantes eleições presidenciais francesas.
Se o avanço eleitoral recente da Frente Nacional e as sondagens prenunciam o vendaval de Marine Le Pen, um eventual movimento de voto útil no escolhido para travar a Extrema-Direita xenófoba e populista pode ser inevitável.
Os candidatos nas primárias deste domingo são sete, mas são três os favoritos bafejados pelas sondagens. Segundo o último estudo do Instituto Ipsos para o diário "Le Monde", os antigos primeiro-ministros François Fillon (30% das intenções de voto) e Alain Juppé (29%) e o ex-presidente da República Nicolas Sarkozy (29%) disputam à justa a passagem à segunda volta, de hoje a oito dias. Nenhum dos restantes passa dos 5%.
Preparando a corrida presidencial num contexto de crescente influência de ideias populistas e xenófobas, de que a eleição de Donald Trump, há duas semanas, e a ascensão da ultra direita na administração norte-americana são a mais recente expressão, os candidatos têm o duplo desafio de impedir Le Pen de chegar ao Eliseu e de "alternar" o turno no poder.
Se os candidatos aspiram a federar o voto útil capaz de evitar a entrega da Presidência à Extrema-direita, há escolhos sensíveis pela frente. Um é a candidatura autónoma do ex-ministro socialista Emmanuel Macron, anunciada esta semana com o objetivo de catalisar setores socialistas, centristas e até conservadores moderados. Outro: as respetivas agendas.
Segundo a análise de "Le Figaro", em matéria económica e social todas ou quase todas as propostas convergem em temas como a extinção de impostos sobre as fortunas (os tais que levaram o ator Gérard Depardieu a renunciar à nacionalidade francesa...), redução do imposto sucessório e das contribuições das empresas.
Os candidatos coincidem igualmente no alargamento da jornada semanal de trabalho, maior liberalização das leis laborais, redução do número de funcionários públicos, ao mesmo tempo que lhes aumentam a duração do trabalho e pretendem uniformizar pelo setor privado as condições para a reforma.
Neoliberal, "quase thatcheriano", François Fillon propõe-se "adaptar o modelo social francês à mundialização", reduzir a despesa pública em 110 mil milhões de euros, fundir os sistemas de reformas e fixar em pelo menos 39 horas a jornada de trabalho.
Jogando ao centro - foi lançado pela União de Democratas e Independentes (UDI) -, Alain Juppé defende um "Estado forte" e desenha os contornos de uma "direita de rosto humano", que não assenta na noção de assimilação dos imigrantes (cara à direita anti-imigração e à extrema direita), mas na de integração.
Roçando na agenda da extremista Le Pen, Nicolas Sarkozy endurece, pelo contrário, o discurso e as propostas no capítulo da imigração e da delinquência. Suspensão temporária do reagrupamento familiar e restabelecimento provisório do controlo de fronteiras são duas das medidas. Entretanto, tornou-se, como o inspirador Donald Trump, um cético climático...
Votantes têm de pagar dois euros
Para chegarem às primárias deste domingo, os sete candidatos tiveram de preencher um requisito fundamental: terem o apoio significativo de aderentes de Os Republicanos (LR, na sigla em Francês) e outras forças de Centro-Direita. Cada um teve de ter o patrocínio de 250 eleitos (20 deles parlamentares) representativos de pelo menos 30 departamentos (equivalentes aos nossos distritos) e o apoio de pelo menos 2500 militantes.
Esta inovação do LR, posteriormente aberta a forças como a União de Democratas e Independentes (UDI) e inspirada nas primárias do Partido Socialista, põe fim ao princípio segundo o qual o chefe do partido é o candidato natural às presidenciais, bem como a disputas internas que, em 2012, chegaram à acusação de fraude na União para um Movimento Popular (UMP), atual LR.
Autoridade independente
Organizado por uma comissão própria e 104 comissões departamentais, mas tuteladas e fiscalizadas por uma Alta Autoridade Independente composta essencialmente por juristas, o escrutínio realiza-se em 10.228 mesas de voto, nas quais a organização espera 2,7 milhões de eleitores.
Em cada mesa, há um presidente e três assessores, podendo comparecer também um delegado de cada um dos candidatos. A organização estima em mais de 80 mil o número de pessoas diretamente envolvidas no escrutínio, mas se todos credenciarem delegados, ascenderá a 112508.
Os votantes não têm de ser militantes, mas têm de aderir à Carta da Alternância, na qual declaram "partilhar os valores republicanos da Direita e do Centro" e se comprometem "pela alternância pela recuperação bem sucedida da França". Além disso, têm de pagar dois euros - hoje e no dia 27 - destinados a suportar os custos da operação, estimados em cerca de oito milhões de euros. A receita que sobrar seguirá para o financiamento da campanha presidencial de 2017.