Quando a política local se faz nas redes sociais
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Aos cartazes de rua e aos debates promovidos pelos média tradicionais juntou-se nesta pré-campanha autárquica uma intensa aposta nas redes sociais. Em publicações frequentes, os candidatos procuram disputar a atenção permanente dos eleitores, ensaiando uma comunicação direta e próxima, mas que, na prática, se revela frequentemente superficial.
Num país em que os média regionais nunca se afirmaram junto dos públicos e em que os jornais, rádios e televisões nacionais têm muita dificuldade em promover debates com todos os candidatos e em todos os concelhos, os partidos encontram nas plataformas digitais um atalho eficaz para chegar ao eleitorado. Facebook, Instagram, TikTok e X permitem, com custos reduzidos, alcançar milhares de pessoas e adaptar mensagens a públicos segmentados. A isto junta-se a possibilidade de transmissões em direto e de interação imediata através de comentários, criando uma perceção de proximidade e de transparência. Que é mais ilusória do que real. Porque os candidatos não estão no universo digital para conversar com ninguém, mas para difundir mensagens num cenário onde o contraditório praticamente não existe. Eles falam e nós ouvimos. Claro que podemos reagir num nível inferior da publicação, mas essa nossa reação perde-se no ruído ensurdecedor do fluxo digital. Privilegiando conteúdos com assinalável carga de emoção e com grande simplificação, as redes sociais não são o lugar para discussões aprofundadas.
Como sabemos, a política autárquica centra-se em soluções concretas para problemas de proximidade. Por exemplo, a reabilitação das ruas, o funcionamento de equipamentos públicos, a resposta a problemas sociais, as soluções de mobilidade... Pouco disso está no caudal em permanente agitação das redes sociais. Antes se desenvolve aí um exercício de imagem e de popularidade, demasiado vulnerável às desordens informativas e à volatilidade do ambiente digital.
O paradoxo desta tendência é claro: amplia-se o alcance das mensagens ao mesmo tempo que se limita a qualidade do debate democrático. Nas redes sociais, a política local perde densidade para se transformar num fluxo contínuo de slogans e de imagens, muitas vezes com práticas questionáveis, como a exposição de idosos em visitas a lares em claro desrespeito pela sua privacidade. Cabe, pois, aos candidatos resistirem à tentação de reduzir a política a estratégias de visibilidade digital e aos eleitores exigir mais do que publicações virais. Porque a vida autárquica não se mede em likes ou partilhas, mas na capacidade de resolver problemas reais. Isso não se vê em imagens ou em vídeos.