Não faltaram multidões nas ruas para ver a monarca britânica em solo nacional. Acolher tão alta figura exigiu pompa e circunstância na ditadura e na democracia
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Num país que deixou de ter monarquia em outubro de 1910, Portugal engalanou-se e vestiu-se a preceito para receber por duas ocasiões a rainha Isabel II, uma em 1957 e outra em 1985. Nas duas visitas da chefe de Estado britânica, que esteve 70 anos no trono, a euforia tomou conta das ruas de várias cidades portuguesas, com particular destaque para Porto e Lisboa, onde as multidões fizeram parar (quase) tudo.
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Aos 30 anos de idade, e com apenas cinco anos de reinado, uma jovem Isabel II chegou a Lisboa. O desembarque oficial aconteceu no Cais das Colunas: a rainha e o marido saíram do iate real Britannia, onde o duque de Edimburgo tinha feito uma longa viagem pelos países da Commonwealth, grupo que na altura fazia parte do império britânico e que se viria a reconverter, aos dias de hoje, numa organização de cooperação e amizade entre os territórios.
Isabel II, que não via o companheiro havia quatro meses, teve antes outro ponto de encontro com Filipe em Portugal. A 16 de fevereiro de 1957, a rainha chegou à base aérea do Montijo, onde tinha à espera o marido. O casal seguiu para a baía de Setúbal, onde o Brittania estava ancorado.
Dois dias depois, o navio atracaria na capital, onde começaria oficialmente a primeira visita de Estado da monarca ao país.
Usar vestidos de Paris
Craveiro Lopes, presidente da República de então, recebeu a jovem rainha no Terreiro do Paço. Era um Portugal cinzento, em plena ditadura, pouco dado a euforia, mas que ganhou cor nas indumentárias e nas varandas para receber a monarca. O chefe de Estado português ofereceu-lhe um cavalo lusitano, uma entre as várias despesas da visita que António de Oliveira Salazar não terá apreciado.
Os registos dão conta de muitas senhoras com "vestidos de Paris", que transformaram o Terreiro do Paço num desfile da moda. O dia era especial: misturou ricos e pobres no mesmo local, para ver a rainha de quem todos falavam. Isabel II visitou Alcobaça e a Nazaré, mas seria o Porto a igualar a apoteose da capital. A Avenida dos Aliados encheu-se para ver o cortejo real. Na edição de 22 de fevereiro de 1957, o JN conta que as "gargantas estavam roucas de tanto aclamar".
Eanes fala sobre Timor
Com novos protagonistas na família real, como a princesa Diana e o filho Carlos, a rainha regressa a terras lusas quase 30 anos depois, em março de 1985, e volta a mover multidões. Isabel II encontra um Portugal democrático, prestes a entrar na Comunidade Económica Europeia. Seriam Ramalho Eanes, enquanto presidente da República, e Mário Soares, como primeiro-ministro, a recebê-la.
Num banquete no Palácio de Ajuda, Eanes não se inquietou com protocolo real, de não comentar política, e fala sobre a libertação do povo de Timor-Leste da subjugação da Indonésia no discurso para a monarca.
O casal passou pela Assembleia da República, a Saint Julian"s School e o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Esteve em Évora e no Porto, onde foram entregues as chaves da cidade à rainha. Não voltaria mais a Portugal, tendo sido representada pelos filhos Carlos e André e as noras de então, Diana e Sarah Ferguson.