Na aldeia de Myrotske foi ontem descoberta mais uma vala comum. A última das três pontes que permitia a ligação a Severodonetsk foi destruída
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Mãos atadas, joelhos baleados, corpos marcados pela tortura, atirados para uma vala escavada na floresta, junto à aldeia de Myrotske, a curta distância de Bucha. A informação foi divulgada ontem por Andrii Niebytov, chefe de Polícia da região de Kiev, numa altura em que os sete corpos, de civis, estavam ainda a ser exumados para posterior identificação.
Aos sete ontem encontrados, juntam-se os 1200 corpos de civis ucranianos ainda por identificar no país, muitos deles resgatados de valas comuns, segundo o chefe da Polícia Nacional Ucraniana, Ihor Klymenko, em entrevista à agência noticiosa Interfax, citada pelo "The Guardian".
A Polícia abriu, entretanto, procedimentos criminais relativos às mortes de mais de 12 mil ucranianos, mais de 1500 só em Kiev.
"Em Bucha, Irpin, Hostomel, Borodianka havia muitas pessoas mortas nas ruas - franco-atiradores atiraram de tanques, de veículos blindados, apesar das braçadeiras brancas que os militares russos obrigavam as pessoas a usar", referiu Klymenko.
Destes, cerca de 75% são homens, 2% crianças e os restantes mulheres, adiantou o mesmo responsável. Só em Bucha, 116 pessoas foram enterradas numa vala comum, outras valas guardavam entre cinco a sete corpos.
"Cerca de 1200 corpos não foram identificados até agora. Este é um processo longo, bastante trabalhoso porque muitos corpos estão em estado de decomposição, foram enterrados, fuzilados, não puderam ser identificados. Usamos o DNA apenas de familiares diretos - pai, mãe, filhos. Esta é a única maneira de trabalharmos", explicou Klymenko.
Terceira ponte atingida
No extremo Leste do país, as forças russas atingiram a ´ponte que permitia a ligação entre as cidades de Severodonetsk - onde decorrem os combates mais violentos, quarteirão a quarteirão - e Lysychansk, o que veio cortar uma possível via de evacuação de civis, numa altura em que as três pontes sobre o rio Siversky Donets, que faziam a ligação a Severodonetsk, foram destruídas, o que levanta receios em relação aos que não conseguiram escapar.
"Todas as pontes foram destruídas", disse Serhiy Haidai, governador da província de Lugansk, acrescentando que a Rússia ainda não capturou completamente Severodonetsk, ainda que tenha "uma significativa vantagem na artilharia", que tem forçado o recuo dos soldados ucranianos. "Os russos estão a destruir quarteirão a quarteirão", disse Haidai, assumindo que as forças invasoras controlam já 70% da cidade onde se joga o destino da região do Donbass.
Em negociações com Moscovo está agora a retirada dos cerca de 500 civis - 40 deles crianças - que se encontram na fábrica Azot. "Estamos a tentar chegar a um acordo, com a ajuda da [vice-primeira-ministra ucraniana] Irina Vereshchuk, para organizar um corredor. Até agora não foi bem sucedido", assumiu o governador. "Os abrigos de Azot não são tão fortes quanto na [fábrica] Azovstal de Mariupol, então precisamos de tirar as pessoas com garantias de segurança".