Tal como praticar natação de resistência extrema, passar longos períodos de tempo no espaço também pode fazer encolher o coração, conclui um estudo divulgado na segunda-feira pela revista científica "Circulation".
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Durante o estudo, os investigadores compararam dados da estadia de quase um ano no espaço do astronauta norte-americano Scott Kelly com uma maratona de natação realizada pelo atleta Benoît Lecomte no Oceano Pacífico. De acordo com os cientistas, ambas as atividades têm como resultado a diminuição de tensão no coração que resulta da gravidade, fazendo com que o órgão reduza de tamanho.
O estudo indica ainda que estes dois profissionais perderam massa no ventrículo esquerdo, sendo que o atleta registou uma perda de 20 a 25% da massa total e o astronauta cerca de 19% a 27%.
A gravidade na Terra ajuda o coração a manter o seu tamanho e função enquanto mantém o sangue a circular nas veias. Quando o elemento da gravidade é substituído pela ausência de peso, o coração contrai. Sem a força da gravidade, o coração não precisa de bombear tanto e, como qualquer outro músculo, acaba por definhar devido ao desuso.
"O coração adaptou-se à gravidade reduzida"
De acordo com um dos investigadores, "o coração é extremamente plástico e responde especialmente à gravidade ou à sua ausência". "Tanto o impacto da gravidade quanto a resposta adaptativa ao exercício desempenham um papel, e mesmo períodos extremamente longos de exercícios de baixa intensidade não impediram o músculo cardíaco de encolher", revela Benjamin D. Levine, professor da Universidade do Texas.
Quando questionado sobre o estado do coração do astronauta, o especialista referiu que "o coração adaptou-se à gravidade reduzida", acrescentando que não se tornou disfuncional e que "o excesso de capacidade não foi reduzido a um nível crítico".
Com base na experiência efetuada, os autores do estudo concluem que os astronautas "provavelmente ficarão bem", podendo, no entanto, enfrentar problemas caso se magoem ou fiquem doentes (com o coração mais fraco, eles podem ficar tontos ou até desmaiar).
Além de ter contribuído para o presente estudo, Levine faz parte de um programa da NASA chamado Cipher, que enviará outros dez astronautas ao espaço para missões de longa duração. Assim, os investigadores poderão submeter os corações dos membros da tripulação a uma série de testes diferentes, a fim de obterem uma imagem mais pormenorizada da função cardíaca no espaço.